Canto Litúrgico


Canto Litúrgico 

Canto (ou música) litúrgico é aquele que a Igreja admite de direito e de fato na celebração litúrgica, e por este mesmo motivo, deve manifestar plenamente a fé católica. A música será litúrgica quando nela a Igreja reconhecer sua oração, quando ela aparece para acompanhar os textos a serem cantados.Como dizia santo Agostinho aos pagãos que indagavam sobre sua fé: “Queres ver em que eu creio, venha à Igreja ouvir o que canto”.

Diferença entre “canto litúrgico” e “canto religioso” 

É preciso distinguir a diferença que existe entre música liturgia e música religiosa. Faz-se necessário considerar que uma música religiosa, por melhor que seja não serve para o uso litúrgico, mas foi composta para outra finalidade. São aquelas músicas que procuram expressar o sentimento religioso dos fiéis, mas não têm lugar na liturgia. Elas servem para encontros, exercícios de piedade, etc. Na música religiosa podemos encontrar cantos para encontros, para reuniões de grupos de rua, cantos para grupos de oração, etc. Também não se deve nutrir pré-conceito a respeito da música religiosa. Ela tem seu valor na vivência cristã. Pelo fato de não serem adequadas para liturgia não significa que não tem sua importância no sentimento religioso de nosso povo. Porém, não podemos cair no erro de acharmos que temos o direito de colocá-las na liturgia só porque são bonitas e animadas e por conta disto desprezarmos a música litúrgica. Cada canto no seu lugar. Não temos o direito de ignorar as regras litúrgicas e as orientações do Magistério da Igreja.

No presente artigo serão analisados os cantos relativos à celebração da Eucaristia.

A importância do canto 

“A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor que ultrapassa todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte integrante da liturgia solene” (Constituição Sobre a Sagrada Liturgia).Esta afirmação do Concílio Vaticano II faz eco à Sagrada Escritura que apresenta em suas páginas mais de seiscentas referências ao canto e à música. Do primeiro livro, o Gênesis, ao último, o Apocalipse, o canto aparece como o desenrolar de uma esplendida e majestosa liturgia. “Celebrai o Senhor, aclamai o seu nome, apregoais entre as nações suas obras. Cantai-lhe hinos e cânticos, anunciai todas as suas maravilhas”, diz o rei Davi em 1Cron 16,8-9. Este relato, entre tantos outros, deixa transparecer uma rica e jubilosa liturgia, na qual as aclamações, a música e o canto são elementos que fazem parte da fé de um povo. Deste modo, os atos litúrgicos revestem-se de forma mais elevada e nobre quando os ofícios, nos quais o povo participa ativamente, são celebrados com canto, pois onde há manifestação de vida comunitária existe o canto e onde existe o canto, celebra-se a vida. Podemos perceber, então, que após a comunhão sacramental, o canto é o elemento que melhor colabora para uma verdadeira participação na liturgia, já que é uma das expressões mais profundas e autênticas da própria liturgia, possibilitando ao mesmo tempo a participação pessoal e comunitária dos fiéis. Por ser a celebração do Mistério Pascal realizada pelo povo de Deus, a participação das pessoas é de fundamental importância. Na liturgia, essa participação manifesta-se também através do canto e da música. Estes, no contexto da ação litúrgica, não são realidades autônomas, mas sim funcionais, ou seja, têm uma função: estão a serviço do Mistério da Fé e da assembléia. O que deve prevalecer não são os gostos, a estética individual de cada um, mas a essência do Mistério e a participação prazerosa e frutuosa de todos. Como já foi dito, Deste modo, a liturgia, como exercício da função sacerdotal de Cristo, comporta um duplo movimento: de Deus para nós homens, para operar nossa santificação, e de nós homens para Deus, para que possamos adorá-lo em espírito e verdade. Por isso, a liturgia, de um modo geral, pode ser entendida como um diálogo entre Deus-Trindade e o Homen-Comunidade. Este diálogo é composto de vários momentos. Cada momento tem seu “espírito” próprio, seu sentimento peculiar e, portanto, uma expressão diferenciada. Adaptando-se a essa espiritualidade, cada momento exige um tipo de expressão musical. Os cantos litúrgicos da missa devem respeitar cada um dos seus ritos: os Ritos Iniciais, o Rito da Palavra, o Rito Eucarístico, o Rito da Comunhão e Ritos finais. Devem ser cantos originais e jamais adaptações de cantos não religiosos. Na liturgia, os cantos podem ser classificados em dois grupos:

  1. a) Os cantos que acompanham o rito

Os cantos que acompanham o rito, como a própria definição demonstra, devem terminar quando o rito terminar. Os cantos que são o próprio rito devem ser cantados por inteiro, pois não se deve interromper o rito pela metade. São exemplos de cantos que acompanham o rito: o “canto de abertura” que acompanha o rito da entrada, o “canto de apresentação das oferendas” que acompanha o rito da procissão das oferendas, o “cordeiro de Deus” que acompanha a fração do pão e o “canto de comunhão” que acompanha a procissão de comunhão.

  1. b) Os cantos que são o próprio rito

São exemplos de cantos que são o próprio rito: o “santo” que é um grande louvor, o Ato Penitencial, o Hino de louvor. Se a música for de fato como requer a Liturgia, será um sinal que nos leva do visível ao invisível, um carisma que contribui para a edificação de toda a comunidade e a manifestação do mistério da Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo. Enfim, a música auxilia nossa prece, fortalecendo a Palavra que ouvimos.

O Canto na Assembléia

Nas nossas celebrações devemos levar em consideração as pessoas. A liturgia é o lugar por excelência do encontro das pessoas humanas entre si, e das pessoas humanas com a as Pessoas Divinas, ou seja, a assembléia reunida encontra-se consigo mesma e com Deus. Servir a essa assembléia e ajudar a promover esse encontro é o papel de todos aqueles que atuam na liturgia. Trata-se de desempenhar seu papel de tal modo que se introduza o povo reunido cada vez mais, pela fé, nos Mistérios de Cristo, levando em consideração as suas possibilidades, sua riquezas culturais e seus limites. Este é o caminho mais seguro para se chegar a uma celebração cheia de vida, sobretudo quando se trata de canto e música. A assembléia litúrgica não é apenas uma soma dos indivíduos que a compõem. Ela é a Igreja inteira manifestando-se naqueles que estão reunidos e Cristo aí está, presente e agindo. É uma comunhão de pessoas e servir a essa comunhão é a função do agente litúrgico-musical. Assim, não tem sentido, por exemplo, escolher os cantos de uma celebração em função de alguns que se apegam a um repertório tradicional ou de outros que só cantam músicas do seu grupo ou movimento. Todos têm o direito de compreender e participar. É preciso que se pense em todos, e em cada um na comunhão com os demais. Desse modo, alguns critérios devem ser observados para que uma musica seja executada na liturgia:

  1. a) A música deve estar intimamente ligada à ação litúrgica a ser realizada, exprimindo mais suavemente a oração, favorecendo a unanimidade e dando maior solenidade aos ritos sagrados.

b)Deve-se respeitar a sensibilidade religiosa do povo.

  1. c) A música deve ser adequada ao tipo de celebração na qual será executada, levando em conta o tempo litúrgico.
  2. d) Deve estar em sintonia com os textos bíblicos de cada celebração, especialmente com o Evangelho, no que diz respeito ao canto de comunhão.
  3. e) A música deve estar de acordo com o tipo de gesto ritual que será executado pelos ministros e pela assembléia.

Ministérios e serviços do Canto

Quando a assembléia litúrgica se reúne para celebrar o Mistério de Cristo, ela se serve de pessoas (os diversos ministros), e de coisas (música, flores, velas, etc…) que passam então, a desempenhar um papel ministerial na celebração. Em se tratando de pessoas, temos aí a equipe de liturgia, que cuida da preparação da celebração e assume as várias tarefas de animação e coordenação. Entre essas pessoas temos os cantores e os instrumentistas. Uma coisa importante que temos que ter em mente é que “nas celebrações litúrgicas, cada um, ministro ou fiel, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete”.(Sacrossanto Concilium, nº20). Devemos, então, evitar o costume de acumular funções e ministérios durante uma celebração, como por exemplo, uma pessoa tocar um instrumento, cantar e fazer os comentários da missa. Não esqueçamos que uma assembléia litúrgica se expressa na diversidade de ministérios e serviços, preservando-se sempre a unidade. Vejamos algumas funções do ministério da música e suas atribuições:

  1. a) O cantor. A função do cantor no contexto de uma assembléia litúrgica é mais antiga do que se pensa e não se resume a animar o canto, mas também, orientar a escolha das músicas que serão executadas na celebração, para que as mesmas sejam adequadas ao tempo, à festa, aos ritos. O cantor quando transmite uma mensagem religiosa ao povo, torna-se um verdadeiro profeta de Deus (1Cron 25,1).
  2. b) O instrumentista. Como o próprio nome diz, é aquele que se ocupa com os instrumentos. Estes, os instrumentos podem ser de grande utilidade na liturgia, quer acompanhando o canto, quer sem ele, na medida que prestam serviço à palavra cantada, ao ritual e à comunidade em oração. Além de serem usados para acompanharem o canto, os instrumentos podem ser executados sozinhos em alguns momentos da celebração, como por exemplo, antes da celebração, para criar um clima de recolhimento; durante a procissão das oferendas, após a comunhão; no final da celebração. Um detalhe importante: O recurso de “fundo musical” em momentos como a proclamação da leitura e durante a oração eucarística, será sempre “inoportuno”. O instrumento deve sempre ser tocado de forma adequada ao momento celebrativo e à natureza da assembléia, nunca abafando sua voz ou a do cantor. Da mesma forma, a voz do cantor nunca deve encobrir a da assembléia. Deve-se observar também o espaço celebrativo: uma igreja grande requer um som mais “carregado” e mais instrumentos, enquanto que uma pequena igreja exige um som mais baixo. Executar um instrumento musical exige atitude espiritual em qualquer situação, principalmente quando se trata de uma celebração litúrgica. Portanto, o instrumentista como ministro da celebração, deve estar profundamente envolvido com a ação litúrgica por sua atenção e participação.

c)O salmista. É importante valorizar a função do salmista na assembléia, como ministério específico, como um dom de Deus para a comunidade. Este ministério poderá ser exercido com habilidade artística, evitando-se o virtuosismo, na proclamação do salmo e na participação nos outros cantos responsoriais. Durante o canto da assembléia, o salmista deve cantar sempre a melodia principal evitando uma segunda voz, a fim de não dificultar o canto da assembléia ou inibi-la em sua participação, principalmente ao usar o microfone.

Algumas falhas 

  1. a) A postura de alguns animadores de canto nem sempre tem proporcionado um clima de oração e interiorização. Às vezes, tem-se mais “ruído” e distração do que contemplação e louvor. Em alguns casos a música é vista como algo complementar e que serve apenas para quebrar a monotonia de algumas celebrações.
  2. b) Muitos animadores de canto, por falta de formação litúrgica, desconhecem os critérios para a escolha dos cantos de uma celebração, esquecem que o canto é funcional, ou seja, tem uma função a exercer na liturgia.
  3. c) Muitos desconhecem a hierarquia dos cantos, já que alguns são “elementares”, e por isso mesmo, mais importantes e necessários; outros são “acessórios”, e conforme as oportunidades são dispensáveis.
  4. d) A adequação dos cantos a cada tempo litúrgico, a cada festa, tipo de celebração, tipo de assembléia, passa às vezes, totalmente despercebidos pelos animadores de música.
  5. e) Observa-se uma total separação entre canto e liturgia. Canta-se “na” liturgia qualquer música religiosa, ao invés de se cantar “a” liturgia.
  6. f) A questão da comunicação também e problemática, apresentando alguns problemas que não favorecem a execução do canto: instalação inadequada do som, abuso do microfone, que abafa a voz da assembléia, bandas e grupos não integrados com a equipe de celebração, etc.
  7. g) A mudança constante de repertório faz com que o povo não aprenda bem nenhum canto, ficando impedido de participar com gosto e prazer, uma vez que a repetição, em matéria de música, é fundamental no aprendizado.

Os Diversos Cantos Da Missa 

1) O “canto de abertura”

Deus caminha ao nosso encontro: esse é o sentido da procissão de entrada. Em diversas passagens bíblicas vemos o povo de Deus caminhar, seja em busca da terra prometida, seja em busca de libertação. Ora a caminho de Jerusalém, ora ao encontro de Jesus. É por isso, que na pessoa do sacerdote, aclamamos a Cristo que vem ao nosso encontro, com toda a sua majestade, seu poder e autoridade, para celebrarmos juntos os Mistérios do sacrifício da Missa. O canto de abertura (ou de entrada) está inserido nos ritos iniciais e cumpre o papel de criar comunhão. Uma de suas funções é a de acompanhar a procissão do sacerdote e não para acolher ou receber o sacerdote, pois é este quem acolhe a todos os presentes na assembléia para participarem do grande sacrificio da Santa Missa. Toda a assembléia reunida canta a alegria festiva de reunir-se com os irmãos. Seu mérito é o de convocar a assembléia e, pela fusão de vozes, juntar os corações ao encontro com do Cristo ressuscitado. Este canto tem que deixar a assembleia num estado de ânimo apropriado para a escuta da palavra de Deus, além de deixar claro que festa ou Mistério do tempo litúrgico irá ser celebrado. Todo o povo deve estar envolvido na execução desta canção. Este canto não deve ser longo e deve terminar quando o sacerdote chegar ao altar.
2) O “Ato Penitencial”

Tradicionalmente esse canto, que era executado em forma de ladainha, era uma oração de louvor ao Cristo Ressuscitado, aclamado como “Nosso Senhor”. Através dele, a Igreja pedia que Jesus mostrasse sua bondade. Posteriormente foi incorporado ao rito penitencial e começou a fazer parte de um momento de reconciliação. Este rito vem ao encontro daquele que, ao se defrontar com a presença de Deus, sente-se, talvez, acusado de suas faltas. É um momento de provar da misericórdia de Deus e receber perdão dos pecados veniais. Como é um canto de repouso, sua melodia deve traduzir a contrição de quem pede perdão. Não é necessário, nem mesmo recomendável, que seja um canto muito “florido”, pois a simplicidade é a melhor forma de expressar o arrependimento. O instrumentista deve traduzir esse espírito de confiança e invocação, acompanhando de modo suave, quase imperceptível, pois o canto e a expressão corporal devem neste momento propiciar o encontro com Deus misericordioso e consolador. Este canto é o próprio rito do Ato Penitencial e deve ser cantado integralmente, devendo conter, as súplicas “Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós”. Caso contrário, as súplicas devem ser ditas pelo sacerdote e respondida pelo povo logo após o canto.

3) O “Glória”

O Hino de Louvor, ou Glória, expressa o louvor de toda a criatura ao Criador, o louvor do homem remido dos pecados ao Senhor e do homem imperfeito ao Espírito Consolador. Relembra os pontos principais de todo o Mistério de nossa salvação em Jesus Cristo. Este canto deve fazer o verdadeiro louvor, louvor que glorifica a Deus pelo que ELE É, e não pelo que Ele faz. É um hino muito antigo e já era cantado pelos cristãos no séc. IV, como homenagem a Jesus Cristo, e relembra a alegria dos anjos e pastores, que entoaram este canto na noite do nascimento do Salvador (Lc 2,14). Este hino não é, portanto, uma aclamação trinitária, mas sim cristológica. Como ele é o próprio rito, deve ser cantado integralmente. Por isso, para que um canto de “Glória” seja litúrgico, ele deve conter, obrigatoriamente, todo o hino de louvor. Portanto, é falsa a idéia de que basta ter as invocações “Glória ao Pai”, “Glória ao Filho” e “Glória ao Espírito Santo”, para que o canto seja um verdadeiro hino de louvor. A entoação inicial não é mais reservada a quem preside a celebração e pode ser feita pela equipe de música. {C A liturgia não usa este hino nos tempos litúrgicos do Advento e da Quaresma, pelo fato de que um hino festivo não sintoniza com um tempo de penitência e contrição. Como se trata de um hino, deveria sempre ser cantado, pois hinos se cantam, não se falam. Ou se canta, ou não é hino.

{C 4) O canto de “Procissão da Bíblia”

Na Missa, celebramos a Palavra e a Eucaristia. A Palavra é a Bíblia, que é a revelação do amor de Deus, fonte de salvação, o Verbo de Deus, que na liturgia eucarística se tornará carne que habitará entre nós (Evang. de São João cap. 1 e 6). Portanto a Palavra é o próprio Deus que se revela ao homem, e é por isso, que a aclamamos de todo o coração e de toda a alma. Deste modo, este canto deve provocar uma atitude de alerta e exultação no momento em que o Livro Sagrado é introduzido solenemente na assembléia. Nesta procissão podem ser utilizadas a Bíblia, o Lecionário ou o Evangeliário. {C Este canto não faz parte “oficialmente” da liturgia, sendo, então, facultativo. Geralmente é usado em missas solenes e no mês de setembro, que é o mês da Bíblia. {C É um canto que acompanha o rito da procissão da Bíblia e, por isso, deve ser encerrado ao término desta procissão.

{C 5) O “Salmo Responsorial”

{C Para a Liturgia da Palavra ser mais proveitosa, há séculos um salmo tem sido cantado como prolongamento meditativo e orante da palavra de Deus proclamada. Por isso, o salmo de resposta é parte integrante da Liturgia da Palavra. O salmo é responsorial, ou seja, é de resposta, pois, ao ouvir a Palavra de Deus, o povo responde em concordância com o que acabou de ouvir. A tradicional execução do salmo responsorial é dialogal: o povo responde com um curto refrão, aos versos cantados por um solista. {C A palavra salmo significa oração cantada e acompanhada de instrumentos musicais e é originária das poesias colhidas na fé do povo israelita. É por isso que todo salmo deve ser cantado e toda a assembléia deve responder cantando o refrão. Segundo a Instrução Geral do Missal Romano(IGMR), “como parte integrante da Liturgia da Palavra, o salmo é sempre um texto bíblico, comumente extraído do saltério”. {C Não é necessário que o salmo seja um dos 150 existentes na Bíblia. Ele pode ser substituído por outro texto bíblico, desde que esteja de acordo com a primeira leitura, com quem está teologicamente ligado. Seria muito recomendável um momento de silêncio entre o final da proclamação da leitura e o canto do salmo responsorial. Por fazer parte da liturgia da palavra, deve ser cantado ou proclamado do ambão.

{C 6) O canto de “Aclamação ao Evangelho”

{C A aclamação “hallelu-jah!”, que quer dizer louvai ao senhor, tem sua origem na liturgia judaica e ocupa um lugar de destaque na tradição cristã. Sempre foi uma expressão de acolhimento solene de Cristo que vem após sua palavra viva, sendo deste modo uma manifestação de fé na presença atuante do Senhor. Como o Evangelho é o próprio Cristo que fala, devemos estar de pé, na posição de quem ouve o recado para ir anunciar as palavras de salvação. {C Este canto é o próprio rito de aclamação ao Evangelho e deve ser cantado integralmente. Para que um determinado canto possa ser considerado como canto de aclamação ao Evangelho, este deve, obrigatoriamente, conter a palavra “aleluia!”, que demonstra alegria, com exceção do tempo do Advento e da Quaresma, onde o “aleluia!” é vetado em virtude do forte tempo de contrição e penitência. Neste caso, pode-se cantar um verso aclamativo da Sagrada Escritura (como por exemplo, Mt 4,4) ou uma doxologia (como está em 1Tim 6,16; 1Ped 4,11; Apoc 1,6). {C O “Aleluia!” ou o versículo antes do Evangelho podem ser omitidos, quando não são cantados, e substituídos por um momento de silêncio. O “Aleluia!” pode ser repetido após a proclamação do Evangelho.

{C 7) A “Profissão de Fé” (Credo)

A “Profissão de Fé”, ou o “Credo”, é uma resposta à Palavra de Deus. É uma resposta de fé e de compromisso da comunidade. Nela, expressamos os principais dogmas de nossa fé. A Profissão de Fé pode ser cantada, mas toda a assembléia deve conhecer bem o canto, para que ninguém fique sem manifestar publicamente a sua fé, por não conhecer a melodia ou a letra. No Brasil não é comum cantá-la, mas quando isso for feito, devemos observar que esse canto é o próprio rito da Profissão de Fé, devendo todo o seu conteúdo ser preservado. Nunca se deve substituir a recitação do Credo por um canto que não contenha integralmente a sua letra.

8) Canto da “Apresentação das Oferendas”

{C Este canto acompanha a procissão das oferendas que leva ao altar o pão e o vinho que serão consagrados, e também o gesto de “colocar os bens em comum, para as necessidades da comunidade” (Rm 12,1-2; Ef 4,28). Em nossas comunidades o canto de “apresentação das oferendas” tornou-se um momento em que o povo deseja expressar sua disposição de querer oferecer sua vida, sua luta e trabalho ao Senhor, o que parece ter um alto valor espiritual. {C Não é um canto muito necessário, principalmente quando não há a tradicional procissão dos dons que serão ofertados. A sua letra não precisa falar necessariamente de pão e vinho ou de ofertório,podendo ser um texto de louvor apropriado com o tempo litúrgico, porém seria incoerente numa Missa, o canto não conter estas palavras. Deve-se observar um canto que não contenha “pão e vinho” em celebração da Palavra, pois não há apresentação de oferendas.O término deste canto não precisa coincidir como fim da apresentação das oferendas, mas pode ser cantado inteiramente, devendo ser encerrado, no máximo, quando o sacerdote termina de oferecer o pão e o vinho e purifica as mãos. O Canto de Apresentação das Oferendas pode ser substituído por uma música instrumental.

{C 9) O canto do “Santo”

{C Para concluir o prefácio da Oração Eucarística o povo aclama o Senhor com as palavras que o profeta Isaías ouviu os serafins cantarem no templo, em sua visão (Is 6,3). O “Santo” é um dos principais cantos da Missa. Nele, toda a assembléia se une aos anjos e santos, para proclamarem as maravilhas do Deus Uno e trino. É o canto dos anjos (Is 6,2-3) e também dos homens (Lc 19,38). Este canto pertence, então, a comunidade toda e não teria sentido convidar os céus e a terra, os anjos e santos para cantarem a uma só voz, e, depois, somente um coral ou um solista executar o canto sozinho. {C Neste canto é indispensável a participação dos instrumentos para solenizar esta vibrante saudação. O “Santo” é o próprio rito da aclamação e deve ser cantado integralmente.Para que um canto do “Santo” seja considerado litúrgico, ele deve conter, obrigatoriamente, todas as palavras da oração recitada. Ou seja: “Santo, Santo, Santo (três vezes) + Bendito o que vem em nome do Senhor + Hosana nas alturas”. O recomendável mesmo é que o canto se atenha à própria aclamação, sem introduzir alterações no texto original, que, aliás, é bíblico. {C Um ponto importante: quando a “apresentação das oferendas” for acompanhada por um canto, seria conveniente que o “santo” fosse sempre cantado, para não parecer que a “apresentação das oferendas” é mais importante que a oração Eucarística.

{C 10) A “Aclamação Memorial”

{C A “Aclamação Memorial” é uma das aclamações mais importantes da missa e seria muito conveniente se fosse sempre cantada por todos, em resposta à introdução “eis o Mistério da fé”, entoada pelo presidente da celebração. Esta aclamação nunca deve ser substituída por textos que expressam a Presença real de Cristo na eucaristia, pois altera o sentido litúrgico do Mistério que se celebra. Este é o momento do memorial, do anúncio do mistério pascal, da Morte e Ressurreição de Cristo e não o momento de devoção à Presença Real.Portanto, não se deve substituir essa aclamação por um canto eucarístico. {C De uma maneira geral, temos duas aclamações como resposta: “Toda a vez que se come deste pão, toda vez que se bebe deste vinho, se recorda a Paixão de Jesus Cristo e se fica esperando a sua volta!”, é reservada especificamente para a Oração Eucarística nº 5. A outra resposta “Anunciamos a sua morte Senhor, e proclamamos a sua ressurreição!”, pode ser usada nas outras Orações Eucarísticas.

{C 11) A “Doxologia Final” (ou “Grande Amém”)

{C O “Grande Amém” é o Amém! mais importante da missa, pois finaliza com a confirmação de que “assim seja”, todo o Mistério salvífico apresentado e realizado na Oração Eucarística. Esta aclamação deveria sempre ser cantada e pode ser repetida três vezes. O “Amém!” é uma aclamação comunitária e, quando cantado, deveria sempre ser acompanhado dos instrumentos para reforçá-lo.

{C 12) O “Pai-Nosso”

{C A “Oração do Senhor” introduz nossa preparação imediata para a participação no Banquete Pascal. Geralmente em nossas igrejas é recitada de maneira apressada, e às vezes, de forma totalmente desorganizada, o que se torna uma verdadeira falta de respeito para com a oração que o próprio Cristo nos ensinou. Quando for cantado, o “Pai-Nosso” deve ser executado numa melodia simples, deforma que todos possam cantá-lo, utilizando-se os instrumentos apenas como sustentação, evitando distrair a atenção do principal que é a oração. Aliás, sem nem todos puderem cantá-lo, é melhor que seja recitado. {C O “Pai-Nosso” é um canto que é o próprio rito e deve ser cantado integralmente, evitando-se as versões alternativas, já que é um texto bíblico. Uma observação importante: a Oração do Senhor é uma oração inserida dentro de um rito, por isso, quer seja recitado, quer seja cantado, nunca se deve dizer “amém” como forma conclusiva. Esse “amém” só deve ser utilizado para encerrar a oração quando esta é feita de forma isolada ou fora do contexto litúrgico da Santa Missa.

{C 13) O “canto da Paz”

{C Através da saudação da paz, o sacerdote implora a paz e a unidade para a Igreja toda e para toda a comunidade humana e os fiéis manifestam mutuamente a caridade, antes de participar do mesmo pão. A “saudação da paz”, antes da Oração do Pai-Nosso, está liturgicamente prescrita e por ser um gesto simbólico, deve ser dada com sobriedade aos que estão mais próximos, do lado, preferencialmente, sem sair do lugar. A Instrução Geral do Missal Romano diz que o sacerdote deve permanecer no presbitério, podendo saudar o ministro ou alguém na assembléia, mas permanecendo no âmbito do presbitério. A saudação é prevista mas o canto não, e entre cantar ou não, melhor que não se cante para valorizar o gesto, não causar dispersão na assembléia e, também, não abafar o canto do “Cordeiro de Deus”, já que este tem a preferência durante o rito de “Fração do Pão”.

{C 14) O canto do “Cordeiro de Deus”

{C Após a “Saudação da Paz”, o sacerdote fraciona o Pão (Corpo de Cristo) e mistura-o ao Vinho (Sangue de Cristo). Com esse gesto, relembramos Jesus na Última Ceia, bem como as celebrações das primeiras comunidades cristãs, que, reunidas, partiam o pão entre si, celebrando os Mistérios da Salvação. Esse gesto nos faz lembrar, também, dos discípulos de Emaús, onde reconheceram o Cristo Ressuscitado somente no momento de partir o pão. Após o ato da “Fração do Pão”, o sacerdote apresenta para a assembléia o Cordeiro Imolado, assim como João Batista mostrou ao mundo o Cordeiro de Deus, aquele que superaria todos os sacrifícios e seria imolado, remindo toda a humanidade consigo. {C Este canto é o próprio rito de aclamação ao Cordeiro e deve ser cantado integralmente, devendo ser iniciado justamente no momento em que o sacerdote toma nas mãos o Corpo de Cristo, fraciona-o e põe um fragmento no cálice junto com o Sangue. É muito importante que o grupo de canto esteja atento a este momento. A invocação e súplica podem ser repetidas quantas vezes o exigir a ação que acompanham, mas atenção, devem terminar sempre com a súplica “dai-nos a paz”. Quem inicia este canto não é quem preside, mas a assembléia ou mesmo o grupo de canto. {C Uma observação importante: como este canto acompanha o rito de “partir o pão”, antes de proceder a sua distribuição, não deve ser usado como se fosse uma maneira de encerrar o movimento criado na assembléia durante o momento do abraço da paz.

{C 15) O canto de “Comunhão”

{C O “Canto de Comunhão” é o canto mais antigo da Missa. Por ele, através da procissão e da união das vozes, expressamos nossa união espiritual em torno de Jesus. Todos ao redor da mesma mesa, congregados numa mesma Igreja, participamos do mesmo Pão do Céu. E esta é realmente a função do canto de comunhão: fomentar o sentido de unidade. Desta forma, ele manifesta a alegria da unidade do Corpo de Cristo, que é a Igreja, e alegria pela realização do Mistério que está sendo celebrado. {C Os hinos eucarísticos usados na adoração ao Santíssimo Sacramento não são apropriados para o momento de comunhão, pois eles destacam apenas a fé na Presença Real de Cristo na Eucaristia, mas não manifestam o sentido de unidade da participação em comum. {C A letra deste canto não deve ser individualista, ou seja, manifestar a comunhão apenas daquele que comunga, mas sim coletiva, isto é, deve provocar na assembléia uma sensação de que todos comungam ao mesmo tempo. Este canto acompanha o rito da comunhão e deve terminar quando a última pessoa comungar. {C Em certas oportunidades, este canto deve favorecer o acolhimento, para evitar um comungar puramente rotineiro e inconsciente. Em outras, principalmente nas ocasiões de festas maiores, deve propiciar a alegria e exultação. {C É comum escutarmos que se deveria fazer silêncio durante a comunhão, para que cada um pudesse se entreter num encontro pessoal com Cristo. É certo que a comunhão é um ato pessoal, mas como já foi dito, deve manifestar-se através de um ato comunitário. Por isso, todo o povo deve participar deste canto. O silêncio eucarístico necessário ao encontro e oração pessoal se dará, mais oportunamente, no momento seguinte.

{C 16) O canto de “Ação de Graças”

{C Como já foi visto, após a comunhão deve-se adotar o silêncio sagrado, onde todos meditam, louvam e rezam a Deus no íntimo de seu coração. Esse momento é dedicado exclusivamente a Deus, onde a criatura adora o Criador. A assembléia pode cantar um hino que una todas as preces de louvor e adoração num só propósito. Alguns consideram esse canto como inapropriado ao momento, porque toda a Missa é ação de Graças e o momento é particular entre quem recebeu a santa Eucaristia e Deus, mas ele está previsto no Missal Romano. Portanto, pode ser cantado, muito embora seja facultativo. {C Deve ser, obrigatoriamente, um canto onde o destinatário seja o próprio Deus, ou seja, deve ser um canto que ajude no diálogo com Deus, com o Cristo Eucarístico. Jamais deve ser executado um canto a Nossa Senhora, ou a qualquer outro santo. É preferível que este canto seja breve e executado por todos, com moderação no volume dos instrumentos e dos microfones. {C É preciso que o ministro de música tenha a devida sensibilidade e discernimento para saber se este canto é conveniente neste momento. O canto de “ação de graças” não é recomendável, e nem mesmo desejável, quando o canto de comunhão se prolongou após o rito da comunhão. Deve-se evitá-lo também, quando a celebração estiver muito prolongada. {C E muita atenção: o “canto de ação de graças” não deve e não pode excluir o silêncio sacramental após a comunhão.

{C 17) “Canto Final”

A reforma litúrgica realizada pelo Concílio Vaticano II propôs, como última fórmula da celebração litúrgica, o “Ide em paz”. Um canto “final” após este momento seria ilógico, pois a assembléia está dispensada. O que temos, na verdade, é um canto de despedida. Este canto de despedida, executado durante a saída do povo, pode ser substituído por uma música instrumental. Se em alguma ocasião parecer oportuno um “canto final”, por exemplo, o hino do padroeiro ou da padroeira da festa, ou um hino em honra da Mãe do Senhor em algumas de suas comemorações, deve ser cantado após a “Benção final” e antes do “Ide em Paz”. Vemos, então, que existe uma certa confusão entre “Canto Final” e “Canto de Despedida”.

Critérios para escolha dos cantos litúrgicos 

Não é qualquer canto que se escolhe para as celebrações. Existem cantos litúrgicos (para as missas) e cantos mensagem (para outras ocasiões, encontros, etc…). As características do Canto litúrgico são:

  1. Conteúdo ou inspiração bíblica;
  2. Qualquer salmo cantado é litúrgico;
  3. Deve ter melodia fácil;
  4. Todos os cânticos litúrgicos são personalizados (ritmo próprio, letra própria e momento próprio);
  5. Ter cuidado com as músicas destinadas às partes fixas da Celebração (Glória, Santo, Pai Nosso, Cordeiro), pois cada um tem o seu conteúdo próprio e isto é da Tradição da Igreja.

Obs: Existem cantos que são o rito e outros que acompanham o rito: IGMR 37, e cantos suplementares: IGMR 26/ D0c 79-318

As características a serem levadas em consideração são:

  1. Canto de entrada: (IGMR 47)

Letra: Deve ser um convite à celebração! Deve falar do motivo da celebração.

Música: De ritmo alegre, festivo, que expresse a abertura da celebração.

  1. Canto penitencial:(IGMR 51,52)

De cunho introspectivo, a ser cantado com expressão de piedade. Deve expressar confiança no perdão de Deus.

Letra: Deve conter um pedido de perdão, sem necessariamente seguir a fórmula do Missal.

Música: Lenta, que leve à introspecção. Sejam usados especialmente instrumentos mais suaves.

  1. Canto do glória: (IGMR 53)

Letra: O texto deve seguir o conteúdo próprio da Tradição da Igreja.

Música: Festiva, de louvor a Deus. Podem ser usados vários instrumentos.

  1. Salmo Responsorial: (IGMR 61)(Doc 79-302)

Letra: Faz parte integrante da liturgia da palavra: tem que ser um salmo. Deve ser cantado, revezando solo e povo, ou, ao menos o refrão. Não pode ser trocado por um canto de meditação.

Letra: Salmo próprio do dia ou outro texto bíblico de acordo com a liturgia do dia.

Música: Mais suave. Instrumentos mais doces.

  1. Aclamação ao Evangelho: (IGMR 62-64)(Doc 79-302)

Letra: Tem que ter ALELUIA (louvor a Javé), exceto na Quaresma. É um convite para ouvir; é o anúncio da Palavra de Jesus. Deve ser curto, e tirado do lecionário, próprio do dia.

Música: De ritmo vibrante, alegra, festivo e acolhedor. Podem ser usados outros instrumentos.

  1. Canto das oferendas: (IGMR 74)(doc 79-319)

É um canto facultativo. A equipe decide e combina com o padre. Caso não seja cantado, é oportuno um fundo musical (exceto Advento e Quaresma), até que as ofertas cheguem até o altar, cessando então, para que se ouça as orações de oferecimento que o padre rezará, então, em voz alta.

Letra: Não é tão necessário que se fale de pão e vinho. Pode falar do oferecimento da vida, etc…

Música: Melodia calma, suave. Uso de instrumentos suaves.

  1. Santo: (Doc 79-303)

É um canto vibrante por natureza.

Letra: Se possível seguir o texto original, indicado pela Tradição da Igreja.

Música: Que os instrumentos expressem a exultação desse momento e a santidade “Tremenda de Deus”. Deve ser sempre cantado.

  1. Doxologia: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”

É uma hora muito importante e solene. É o verdadeiro e próprio ofertório da missa. É cantado apenas pelo Sacerdote. O AMÉM conclusivo, aí sim cantado pelo povo é o mais importante da Missa e deve ser cantado ao menos aos finais de semana.

  1. Pai-Nosso: (Doc 79-309,306)

Pode ser cantado, mas desde que com as mesmas e exatas palavras da oração. Não de diz o Amém, mesmo quando cantado.

  1. Canto da Paz: É um canto facultativo.(Doc 79-322)
  2. Cordeiro de Deus: (IGMR 83(Doc 79-310)

Pode ser cantado com melodia não muito rápida e sempre com as mesmas palavras da oração.

  1. Canto de Comunhão: (IGMR 86-87)(Doc 79-314)

É um canto processional, para se cantar andando.

Letra: Preferência que tenha sintonia com o Evangelho e que seja “Eucarística”.

Música: Processional, toada, balada, etc…

  1. Meditação ou Louvor: (IGMR 88)(Doc 79-320)

Se for o caso, se canta dando graças, louvando e agradecendo o encontro com o Senhor e com os Irmãos. No entanto, que se tenha tempo de silêncio profundo e de adoração e intimidade com o Senhor. Instrumentos mais doces e melodia lenta e que leve a adoração.

  1. Canto final: Não é previsto no Missal Romano.

É para ser cantado após a Bênção Final, enquanto o povo se retira da Igreja: é o canto de despedida.

Letra: Deve conter uma mensagem que levaremos para a vida, se possível, referente ao Evangelho do dia.

Música: Alegre, vibrante. Podem ser usados outros instrumentos.
Fontes: – Instrução Geral sobre o Missal Romano

– Coleção Estudos da CNBB nº79(documento Verde)

– Coleção Documentos da CNBB nº 43(documento azul)

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Homilia 29º do Tempo Comum – Ano B


1ª Leitura – Isaias 53,10-11

Salmo – 32

2ª Leitura – Hebreus 4,14-16

Evangelho – Marcos 10,35-45

 A Palavra de Deus deste domingo (Mc 10,35-45) nos remete ao mistério da salvação que passa pela cruz. Enquanto Jesus anunciava, pela terceira vez, a sua paixão os filhos de Zebedeu pedem: “Deixa-nos sentar à tua direita e outro a tua esquerda, quando estiveres na tua glória!” o pensamento humano sempre foge do sofrimento e garantir as honras. “Por acaso podeis beber o cálice eu vou beber? 32 Eles chegaram a um lugar chamado Getsêmani. Então Jesus disse aos discípulos: «Sentem-se aqui, enquanto eu vou rezar.» 33 Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a ficar com medo e angústia. 34 Então disse a eles: «Minha alma está numa tristeza de morte. Fiquem aqui e vigiem.» 35 Jesus foi um pouco mais adiante, prostrou-se por terra e pedia que, se fosse possível, aquela hora se afastasse dele. 36 Ele rezava: «Abba! Pai! Tudo é possível para ti! Afasta de mim este cálice! Contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.» (Mc 14, 32-36)

Renunciar as riquezas (cf. 28º domingo), significa ter aquela disponibilidade à cruz.

34Então Jesus chamou a multidão e os discípulos. E disse: «Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Mc 8,34)

A indignação dos outros apóstolos, o caminho para chegar ao poder é pelo serviço, o Livro do Profeta Isaias, faz considerações ao servo sofredor (sexta-feira Santa, 1ª leitura) no sofrimento do servo, e a vontade do servo em dar a sua vida em expiação (Evangelho). Jesus ataca o mal, o pecado, pela raiz, fez-se obediente até a morte. Por sua obediência, pode justificar a muitos “Mas, no tempo presente, ele manifesta a sua justiça para ser justo e para tornar justo quem tem fé em Jesus.” (Rm 3,26b), tornando-se assim inicio de um povo novo.

Jesus viveu entre nós e se fez igual  nós, só não no pecado, quando eles quiseram proclamá-lo rei, Jesus retirou-se do meio do povo, a ideia de Messias para o povo e para os Apóstolos era de um rei poderoso que iria livrar o povos das opressões, das injustiças a qual viviam, mas ao contrario, o projeto de Deus frustrou o povo em parte, Ele ensinava que as pessoas deviam se amar, viverem em harmonia. Quebrava regras do povo e dos sacerdotes daquela época, curando pessoas no sábado, sem olhar os preceitos da Lei judaica, não olhando só para os ricos, mais sim olhando os pobres os sem tetos os marginalizados. Até hoje o legado que Jesus Cristo deixou para nós é de um Deus amoroso e fiel que nos faz livres para segui-lo e ama-lo.

“Ai de mim, se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16). O desejo de anunciar Cristo nos leva a ler a história para nela e com ela visualizar os problemas, as aspirações e esperanças da humanidade, que Cristo vem para sanar e plenificar com sua presença. De fato, a sua mensagem é sempre atual e é capaz de dar respostas às inquietações do homem. Devemos ao ler o Evangelho e procurar viver em sua plenitude, mas nos cheios de pecados, de vez enquanto nos vemos em crise de fé.

Hoje, Dia Mundial das Missões e da Infância Missionária, olhemos, para imitarmos, para Cristo, o grande Missionário do Pai, que “não veio para ser servido, mas para servir”.

A Igreja, continuadora da missão salvífica de Cristo no mundo, tem como tarefa principal servir os homens pela pregação da palavra e pela celebração dos sacramentos.

Manoel Lima de Oliveira – MEP

Publicado em Homilias Dominicais | Deixe um comentário

O livre-arbítrio existe?


A expressão “livre-arbítrio” não aparece na Bíblia, mas Deus dá ao homem capacidade de escolher responsabiliza os seres humanos por cada um dos seus atos, mesmo nunca tendo falado especificamente sobre livre-arbítrio.

Se entendermos a expressão “livre arbítrio” como a capacidade que todos os seres humanos têm de escolher e tomar decisões que produzem um efeito real.

O livre-arbítrio é o poder que temos de tomar uma decisão, sem sermos obrigados a escolher uma determinada opção. O livre-arbítrio é nosso poder de escolha. Por causa do livre-arbítrio, cada pessoa é responsável por suas ações. Deus nos deu o livre-arbítrio.

O livre-arbítrio existe? Sim, o livre-arbítrio existe. Todas as pessoas são influenciadas por muitos fatores, mas esses fatores não tiram nosso poder de escolha. Nós também influenciamos eventos. A Bíblia ensina que cada pessoa pode tomar decisões e é responsável por essas decisões.

Deus nos ama e nos deu livre-arbítrio para podermos O amar também. O anjo de luz fez opção em não amar a Deus, por consequência fui lançado a terra, e passa a nos perseguir porque a nós Deus deu uma segunda chance, sendo hoje o atormentador das nossas más inclinações. O demônio tem muito medo que recuperemos a identidade por meio da redenção em Jesus Cristo, porque cada um pode ver de novo o reflexo da luz divina, onde ele não pode ter parte alguma. O corpo é uma perfeição de funcionamento e a inteligência divina que é ilimitada, seria capaz de criar uma algo assim. Sem negligenciar o corpo, é evidente que a alma é o principio da vida de todo ser. A VONTADE é domínio reservado ao Senhor, a INTELIGENCIA onde se situa a consciência: tem como objetivo a verdade. Ai também é domínio reservado ao Senhor, é preciso saber que o mal não pode ter acesso direto a ela contudo pode atingi-la indiretamente. Só uma pessoa com livre-arbítrio consegue amar. Nós não somos “bonecos” que Deus usa para brincar. Ele nos concedeu livre-arbítrio porque somos especiais para Ele.

Mas o livre-arbítrio implica responsabilidade. Nossas ações têm consequências e somos responsáveis por elas. Livre-arbítrio não significa que podemos fazer coisas erradas sem pagar o preço. Nossa liberdade é limitada pelas regras de Deus.

Veja o que diz o Catecismo da Igreja Católica, sobre Liberdade:

LIBERDADE DO HOMEM

  • Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. “Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão” (Eclo 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegar à plena e feliz perfeição

O homem é dotado de razão e por isso é semelhante a Deus: foi criado livre e senhor de seus atos.

Liberdade e responsabilidade

  • A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto, de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança.
  1. Enquanto não se tiver fixado definitivamente em seu bem último, que é Deus, a liberdade comporta a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, portanto, de crescer em perfeição ou de definhar e pecar. Ela caracteriza os atos propriamente humanos. Toma-se fonte de louvor ou repreensão, de mérito ou demérito.
  • Quanto mais pratica o bem, mais a pessoa se toma livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça. A escolha da desobediência e do mal é um abuso de liberdade e conduz à “escravidão do pecado”.

Deus sabe o que vou escolher? Sim, Deus sabe todas as coisas. Ao mesmo tempo somos livres para escolher e Deus está no controle.

”LIVRE ARBÍTRIO, LIBERDADE E ESCRAVIDÃO.”

José Messias Lins Brandão

A liberdade é um dom que os seres inteligentes receberam de Deus para escolherem entre várias formas de bem, de verdade e de beleza. Mas quando eles escolhem o mal, o erro e a feiúra moral, estarão sendo livres? O que é liberdade?

O livre arbítrio deve obedecer à razão

Ouve-se muita gente dizer que livre arbítrio é a liberdade de escolher entre o bem e o mal, a verdade e o erro, a beleza e a feiúra estético-moral. Enganam- se. De fato temos a capacidade de optar por aquilo que não é correto, mas, ao agirmos nesse sentido, estamos abusando da liberdade que Deus nos deu, ao invés de usá-la reta e ordenadamente. Além do mais, estamos interpretando erradamente o que é o livre arbítrio.
Caso suceda um engano desse tipo, fica demonstrado que aquela pessoa realmente usou seu livre arbítrio, mas de modo falho. Como diz Leão XIII, trata-se “de um defeito da liberdade, como a doença é um defeito da vida”.

Liberdade dos filhos de Deus e “liberdade” dos rebeldes

Resumindo, o ser humano deve agir segundo sua razão, ainda que suas paixões a contrariem, que isso lhe custe esforço, e por maiores que sejam os obstáculos a enfrentar. A razão pede a obediência à lei, natural e divina, e mostra que o contrário não é liberdade, mas libertinagem. Tertuliano dizia: “Deus deu a lei ao homem, não para privá-lo de sua liberdade, mas para manifestar-lhe seu apreço”.
Na história do mundo, os primeiros a agir contra a razão foram Adão e Eva, quando cometeram o pecado original. Confundiram liberdade com independência, e nesse caso não foram livres, mas libertinos. Seus descendentes, até o fim do mundo, vão arcar com as consequências desse pecado, levando uma vida árdua nesta terra, em meio a doenças, guerras, crimes, etc.
Aqueles que se rebela contra a lei de Deus, e se creem livres por se negarem a obedecer, são escravos de seus vícios e de suas paixões desordenadas. Livres, realmente, são os que se submetem com amor à vontade divino, desfrutando da liberdade dos filhos de Deus.
Os rebeldes são chamados pela graça para se lembrarem de que são seres humanos e, enquanto tal não lhes é lícito abraçar uma falsa liberdade que os assemelha aos animais.
Em síntese: livre arbítrio e liberdade são capacidades dadas por Deus ao homem (e ao anjo) para escolher a verdade, o bem e o belo moral, de modo que possam se assemelhar mais a Ele, que é a Liberdade em essência.

(Revista Arautos do Evangelho, Out/2005, n. 46, p. 18 à 20)

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

DOMINGO “DIA DO SENHOR” – “DIA DE PRECEITO”


Celebração da Palavra de Deus “DOMINICAL” cumpre-se o preceito?

Vamos entender em primeiro lugar o que é “preceito”

 PRECEITO

  1. m.
  2. Regra de proceder.
  3. Doutrina; norma; prescrição; ordem.

Preceito (do latim praeceptum) é concebido como um comando ou proibição de realizar uma determinada ação ou omissão. A norma contém uma forma abstrata, ou seja, a descrição do fazer ou não fazer, e toma um comando em reação à conduta omissiva ou ofensa à conduta esperada.

Na Igreja temos obrigação a seguir, como os Mandamentos da Igreja que são 05 (cinco):

Primeiro mandamento da Igreja: “Participar da missa inteira nos domingos e outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho”.

  1. Se olharmos o Código de Direito Canônico, Cân. 1248, temos –

Cân. 1248 § 1. Satisfaz ao preceito de participar da missa quem assiste à missa em qualquer lugar onde é celebrada em rito católico, no próprio dia de festa ou na tarde do dia anterior.

  • 2. Por falta de ministro sagrado ou por outra grave causa, se a participação na celebração eucarística se tornar impossível, recomenda-se vivamente que os fiéis participem da liturgia da Palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada de acordo com as prescrições do Bispo diocesano; ou então se dediquem a oração por tempo conveniente, pessoalmente ou em família, ou em grupos de família de acordo com a oportunidade.

Portanto, a Celebração da Palavra de Deus, com distribuição da Comunhão Eucarística, sendo um ato extraordinário. Nós, como Igreja, deveríamos afixar o calendário na Igreja para que os fieis sejam esclarecidos – se devem ou não participarnão satisfaz o “preceito” dominical. A Celebração da Palavra de Deus, na ausência do sacerdote, Não tem o mesmo valor, os fieis tem que se deslocar a Igreja Matriz ou até Igrejas das Paróquias vizinhas. Quando falamos no Domingo “Dia do Senhor” temos que participar da Celebração Eucarística – Missa, sendo impossível o deslocamento, acaba a obrigação.

Não devemos supervalorizar a nossa Comunidade, afinal de contas somos cristãos Católicos, a ponto de acharmos que a minha comunidade é um valor superior a participação da Missa, minha casa é o lugar que encontro com Igreja de Deus.

  1. No Catecismo da Igreja Católica, tem uma vasta informação do que é guardar o Domingo:

Artigo 3

TERCEIRO MANDAMENTO

2.169 a 2195

Lembra-te do dia do sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho (Ex 20,8-l0). O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, de modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado (Mc 2,27-28).

  1. O dia do sábado

O terceiro mandamento do Decálogo lembra a santidade do sábado: “O sétimo dia é sábado; repouso absoluto em honra do Senhor” (Ex 31,15).

A propósito dele, a Escritura faz memória da criação: “Porque em seis dias o Senhor fez o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou no sétimo dia. Por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20,11).

No dia do Senhor, a Escritura revela ainda um memorial da libertação de Israel da escravidão do Egito: “Recorda que foste escravo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te fez sair de lá com a mão forte e o braço estendido. E por isso que o Senhor teu Deus te ordenou guardar o dia de sábado” (Dt 5,15).

Deus confiou o sábado a Israel, para que ele pudesse guardá-lo em sinal da aliança inquebrantável. O sábado é, para o Senhor, santamente reservado ao louvor de Deus, de sua obra de criação e de suas ações salvífica em favor de Israel.

O agir de Deus é o modelo do agir humano. Se Deus “retomou o fôlego” no sétimo dia (Ex 31,17), também o homem deve “folgar” e deixar que os outros, sobretudo os pobres, “retomem fôlego”. O sábado faz cessar os trabalhos cotidianos e concede uma pausa. E um dia de protesto contra as escravidões do trabalho e o culto do dinheiro

O Evangelho relata numerosos incidentes em que Jesus é acusado de violar a lei do sábado. Mas Jesus nunca profana a santidade desse dia. Dá-nos com autoridade sua autêntica interpretação: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Movido por compaixão, Cristo se permite, no “dia de sábado, fazer o bem de preferência ao mal, salvar uma vida de preferência a matar. O sábado é o dia do Senhor das misericórdias e da honra de Deus. “O Filho do Homem é senhor até do sábado” (Mc 2,28).

  1. O dia do Senhor

Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos nele (Sl 117,24).

 O DIA DA RESSURREIÇÃO: A NOVA CRIAÇÃO

Jesus ressuscitou dentre os mortos “no primeiro dia da semana” (Mc 16,2). Enquanto “primeiro dia”, o dia da Ressurreição de Cristo lembra a primeira criação. Enquanto “oitavo dia”, que segue ao sábado, significa a nova criação inaugurada com a Ressurreição de Cristo. Para os cristãos, ele se tomou o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor (“Hé kyriaké hemera”, “dies dominica “), o “domingo”:

Reunimo-nos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia (após sábado dos judeus, mas também o primeiro dia) em que Deus extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, nesse mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos.

O DOMINGO – PLENITUDE DO SÁBADO

O domingo se distingue expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente, a cada semana, e cuja prescrição espiritual substitui, para os cristãos. Leva à plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sábado judeu e anuncia o repouso eterno do homem em Deus. Pois o culto da lei preparava o mistério de Cristo e o que nele se praticava prefigurava, de alguma forma, algum aspecto de Cristo:

Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança não mais observando o sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida é abençoada por Ele e por sua morte.

A celebração do domingo observa a prescrição moral naturalmente inscrita no coração do homem de “prestar a Deus um culto exterior, visível, público e regular sob o signo de seu beneficio universal para com os homens”. O culto dominical cumpre o preceito moral da Antiga Aliança, cujo ritmo e espírito retoma ao celebrar cada semana o Criador e o Redentor de seu povo.

A EUCARISTIA DOMINICAL

A celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coração da vida da Igreja. “O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como dia de festa de preceito por excelência.”

“Devem ser guardados igualmente o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, de Santa Maria, Mãe de Deus, de sua Imaculada Conceição e Assunção, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e, por fim, de Todos os Santos.”

Esta prática da assembleia cristã data dos inícios da era apostólica. A Epístola aos Hebreus lembra: “Não deixemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Procuremos animar-nos sempre mais” (Hb 10,25).

A Tradição guarda a lembrança de uma exortação sempre atual: “Vir cedo à Igreja, aproximar-se do Senhor e confessar seus pecados, arrepender-se na oração…Participar da santa e divina liturgia terminar a oração e não sair antes da despedida… Dissemos muitas vezes: este dia vos é dado para a oração e o repouso. E o dia que o Senhor fez. Exultemos e alegremo-nos nele”

“Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída de maneira estável na Igreja particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco, como a seu pastor próprio, sob autoridade do bispo diocesano.” E o lugar onde todos os fiéis podem ser congregados pela celebração dominical da Eucaristia. A paróquia inicia o povo cristão na expressão ordinária da vida litúrgica, reúne-o nesta celebração, ensina a doutrina salvífica de Cristo, pratica a caridade do Senhor nas obras boas e fraternas.

Não podes rezar em casa como na Igreja, onde se encontra o povo reunido, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. Há ali algo mais, a união dos espíritos, a harmonia das almas o vínculo da caridade, as orações dos presbíteros.

A OBRIGAÇÃO DO DOMINGO

O mandamento da Igreja determina e especifica a lei do Senhor: “Aos domingos e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da missa”. “Satisfaz ao preceito de participar da missa quem assiste à missa celebrada segundo o rito católico no próprio dia de festa ou à tarde do dia anterior.

A Eucaristia do domingo fundamenta e sanciona toda a prática cristã. Por isso os fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio pastor. Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem pecado grave.

A participação na celebração comunitária da Eucaristia dominical é um testemunho de pertença e de fidelidade a Cristo e à sua Igreja. Assim, os fiéis atestam sua comunhão na fé e na caridade. Dão simultaneamente testemunho da santidade de Deus e de sua esperança na salvação, reconfortando-se mutuamente sob a moção do Espírito Santo.

“Por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, se a participação na celebração eucarística se tornar impossível, recomenda-se vivamente que os fiéis participem da liturgia da Palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do Bispo diocesano, ou então se dediquem à oração durante um tempo conveniente, a sós ou em família, ou em grupos de famílias, de acordo com a oportunidade.”

DIA DE GRAÇA E DE INTERRUPÇÃO DO TRABALHO

Como Deus “descansou no sétimo dia, depois de toda a obra que fizera” (Gn 2,2), a vida humana é ritmada pelo trabalho e pelo repouso. A instituição do dia do Senhor contribui para que todos desfrutem do tempo de repouso e de lazer suficiente que lhes permita cultivar sua vida familiar, cultural, social e religiosa.

Durante o domingo e os outros dias de festa de preceito, os fiéis se absterão de se entregar aos trabalhos ou atividades que impedem o culto devido a Deus, a alegria própria ao dia do Senhor, a prática das obras de misericórdia e o descanso conveniente do espírito e do corpo. As necessidades familiares ou uma grande utilidade social são motivos legítimos para dispensa do preceito do repouso dominical. Os fiéis cuidarão para que dispensas legítimas não acabem introduzindo hábitos prejudiciais à religião, à vida familiar e à saúde.

O amor da verdade busca o santo ócio, a necessidade do amor acolhe o trabalho justo.

Os cristãos que dispõem de lazer devem lembrar-se de seus irmãos que têm as mesmas necessidades e os mesmos direito mas não podem repousar por causa da pobreza e da miséria. O domingo é tradicionalmente consagrado pela piedade cristã às boas obras e aos humildes serviços de que carecem os doentes, os enfermos, os idosos. Os cristãos santificarão ainda o domingo dispensando à sua família e aos parentes o tempo e a atenção que dificilmente podem dispensar nos outros dias da semana. O domingo é um tempo de reflexão, de silêncio, de cultura e de meditação, que favorecem o crescimento da vida interior cristã.

Santificar os domingos e dias de festa exige um esforço o comum. Cada cristão deve evitar impor sem necessidades a outrem o que o impediria de guardar o dia do Senhor. Quando os costumes (esporte, restaurantes etc.) e as necessidades sociais (serviços públicos etc.) exigem de alguns um trabalho dominical, cada um assuma a responsabilidade de encontrar um tempo suficiente de lazer. Os fiéis cuidarão, com temperança e caridade, de evitar os excessos e violências causadas às vezes pelas diversões de massa. Apesar das limitações econômicas, os poderes públicos cuidarão de assegurar aos cidadãos um tempo destinado ao repouso e ao culto divino. Os patrões têm uma obrigação análoga com respeito a seus empregados.

Dentro do respeito à liberdade religiosa e ao bem comum de todos, os cristãos precisam envidar esforços no sentido de que os domingos e dias de festa da Igreja sejam feriados legais. A todos têm de dar um exemplo público de oração, de respeito e de alegria e defender suas tradições como uma contribuição preciosa para a vida espiritual da sociedade humana. Se a legislação do país ou outras razões obrigarem a trabalhar no domingo, que, apesar disso este dia seja vivido como o dia de nossa libertação, que nos faz participar desta “reunião de festa”, desta “assembleia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus” (Hb 12,22-23).

RESUMINDO

  • “Guardarás o dia de sábado para santificá-lo” (Dt 5,12). “No sétimo dia se fará repouso absoluto em honra do Senhor” (Ex 31,15).
  • O sábado, que representava o término da primeira criação, é substituído pelo domingo, que lembra a criação nova, inaugurada com a Ressurreição de Cristo.
  • A Igreja celebra o dia da Ressurreição de Cristo no oitavo dia, que é corretamente chamado dia do Senhor, ou domingo.
  • “O domingo (…)deve ser guardado em toda a Igreja como o dia de festa de preceito por excelência.” “No domingo e em outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da missa.”
  • “No domingo e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis se absterão das atividades e negócios que impeçam o culto a ser prestado a Deus, a alegria própria do dia do Senhor e o devido descanso da mente e do corpo.”
  • A instituição do domingo contribui para que “todos tenham tempo de repouso e de lazer suficiente para lhes permitir cultivar sua vida familiar, cultural, social e religiosa.
  • Todo cristão deve evitar impor sem necessidade aos outros aquilo que os impediria de guardar o dia do Senhor.
  1. Para fecharmos as informações temos a Instrução Redemptions Sacramentum, que trata diretamente do assunto ora tratado, ela retoma a realidade de que para o preceito dominical nos temos o domingo, e que, portanto, a Celebração da Palavra de Deus é um ato extraordinário. Como podemos ver:
  1. CELEBRAÇÕES PARTICULARES QUE SÃO FEITAS NA AUSÊNCIA DO SACERDOTE
  2. A Igreja, no dia que recebe o nome de ”domingo”, reúne-se fielmente para comemorar, de maneira especial, na celebração da missa, a ressurreição do Senhor e todo o mistério pascal.[17] De fato, “a comunidade cristã se edifica a partir da Eucaristia, em que fixa suas raízes e apoia sua estrutura”.[18] Portanto, o povo cristão tem o direito de que a Eucaristia seja celebrada em seu favor no domingo, nas festas de preceito, nos outros dias principais de festa e, quanto possível, também diariamente. Portanto, se no domingo numa paróquia ou em uma comunidade de fieis for difícil celebrar a missa, o bispo diocesano avalie juntamente com o presbítero soluções oportunas.[19] Entre tais soluções, as principais serão: chamar outros sacerdotes para essa finalidade ou solicitar aos fieis que se dirijam a uma igreja em algum local próximo para participar do mistério eucarístico.[20]
  3. Todos os sacerdotes, a quem tem sido entregue o sacerdócio e a Eucaristia «para» os outros,[21] lembrem-se de que seu encargo é para que todos os fiéis tenham oportunidade de cumprir com o preceito de participar na Missa do domingo.[22] Por sua parte, os fiéis leigos têm direito a que nenhum sacerdote, a não ser que exista verdadeira impossibilidade, nunca rejeite celebrar a Missa em favor do povo, ou que esta seja celebrada por outro sacerdote, se de diverso modo não se pode cumprir o preceito de participar na Missa, no domingo e nos outros dias estabelecidos.
  4. «Quando falta o ministro sagrado ou outra causa grave fez impossível a participação na celebração eucarística»,[23] o povo cristão tem direito a que o Bispo diocesano, quando possível, procure que se realize alguma celebração dominical para essa comunidade, sob sua autoridade e conforme às normas da Igreja. Por isso, esta classe de Celebrações dominicais especiais, devem ser consideradas sempre como absolutamente extraordinárias. Portanto, quer sejam diáconos ou fiéis leigos, todos os que têm sido encarregados pelo Bispo diocesano para tomar parte neste tipo de Celebrações, «considerarão como mantida viva na comunidade uma verdadeira ?fome? da Eucaristia, que leve a não perder ocasião alguma de ter a celebração da Missa, inclusive aproveitando a presença ocasional de um sacerdote que não esteja impedido pelo direito da Igreja para celebrá-la».[24]
  5. É necessário evitar, diligentemente, qualquer confusão entre este tipo de reuniões e a celebração eucarística.[25] Os Bispos diocesanos, portanto, valorizem com prudência se deve distribuir a sagrada Comunhão nestas reuniões. Convém que isto seja determinado, para promover uma maior coordenação, pela Conferência de Bispos, de modo que alcançada a resolução, a apresentará à aprovação da Sé apostólica, mediante a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Além disso, na ausência do sacerdote e do diácono, será preferível que as diversas partes possam ser distribuídas entre vários fiéis, em vez de que um só dos fiéis leigos dirija toda a celebração. Não convém, em nenhum momento, que se diga que um fiel leigo «preside» a celebração.
  6. Assim mesmo, o Bispo diocesano, a quem somente corresponde este assunto, não conceda com facilidade que este tipo de Celebrações, sobretudo se entre elas se distribui a sagrada Comunhão, revivendo-se nos dias feriais e, sobretudo, nos lugares onde o domingo precedente, ou o seguinte, se tem podido ou se poderá celebrar a Eucaristia. Roga-se vivamente aos sacerdotes que, ao ser possível, celebrem diariamente a santa Missa pelo povo, em uma das igrejas que lhes têm sido confiadas.
  7. «De maneira parecida, não se pode pensar em substituir a santa Missa dominical com Celebrações ecumênicas da Palavra ou com encontros de oração em comum com cristãos membros de outras […] comunidades eclesiais, ou bem com a participação em seu serviço litúrgico».[26] Se por uma necessidade urgente, o Bispo diocesano permitir ad actum a participação dos católicos, vigiem pastores para que entre os fiéis católicos não se produza confusão sobre a necessidade de participar na Missa de preceito, também nestas ocasiones, a outra hora do dia.[27]

4 . Nossa OPINIÃO

Pelo mandato do Bispo Diocesano, fomos investidos Ministros Extraordinários da Palavra, amparados pelo Diretório Pastoral Liturgico-Sacramental, 2ª edição – 2008, no seu Anexo III, p. 59, temos as “Normas e Orientações para os Ministros Extraordinários da Palavra” as informações acima contidas indicam através dos documentos da Igreja.

Preceito (do latim praeceptum) é concebido como um comando ou proibição de realizar uma determinada ação ou omissão. A norma contém uma forma abstrata, ou seja, a descrição do fazer ou não fazer, e toma um comando em reação à conduta omissiva ou ofensa à conduta esperada.

Quando os documentos diz que não se deve Celebrar a Palavra, no domingo, pois mesmo os fieis ao participarem da Celebraçãoda Palavra, estão obrigados a participar da Celebração Eucaristica, sob pena de não estar cumprindo o que manda Santa Madre Igreja, se não tiver na sua paróquia, se deslocar até a uma paróquia vizinha para participar do sacrificio da Missa.

Que o Ministro Extraordinário da Palavra, tendo conciência de que não substitui ao Ministro Ordenado, como diz – Instrução Redemptions Sacramentum, não convém, em momento algum, se diga que um fiel leigo “preside” a celebração. Contrariando de forma direta o [CDC Cân. 230 § 3]

Cân. 230 § 1. Os leigos varões que tiverem a idade e as qualidades estabelecidas por decreto da Conferência dos Bispos, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico prescrito, para os ministérios do leitor e de acólito; o ministério, porém, a eles conferido não lhes dá o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja.

  • 2. Os leigos podem desempenhar, por encargo temporário, as funções de leitor nas ações litúrgicas; igualmente todos os leigos podem exercer o encargo de comentador, de cantor ou outros, de acordo com o direito.
  • 3. Onde a necessidade da Igreja, o aconselhar, podem também os leigos, na falta de ministros, mesmo não sendo leitores ou acólitos, suprir alguns de seus ofícios, a saber, exercer o ministério da palavra, presidir às orações litúrgicas,

administrar o batismo e distribuir a sagrada Comunhão, de acordo com as prescrições do direito.

Em nosso país, são particularmente numerosas as celebrações dominicais da Palavra, presididas por “leigas e leigas que se esforçam por desempenhar esta função na fidelidade ao Evangelho e atendendo às orientações da Igreja e do bispo diocesano” (cf. Documento 62 da CNBB nº 160; Diretório para as celebrações dominicais na ausência de presbítero, da Congregação para o Culto Divino, 10/06/1988; Documento 52 da CNBB, de 1994).

Desse modo, “as celebrações da Palavra de Deus não são uma criação das últimas décadas, mas fazem parte da tradição da Igreja… A finalidade destas celebrações é de assegurar às comunidades cristãs a possibilidade de se reunir no domingo e nas festas, tendo a preocupação de inserir suas reuniões na celebração do ano litúrgico e de as relacionar com as comunidades que celebram a Eucaristia” (cf. Documento 52 da CNBB, introdução, p. 06).

Desse modo, “o papel principal de quem preside é manter viva a relação dialogal entre Deus e a comunidade celebrante, entre os ministérios e a comunidade, entre os vários ministérios entre si” (Guia Litúrgico-Pastoral da CNBB, p. 60).

“Quem preside assume a função de coordenar a celebração. Realiza os ritos próprios da presidência: saudação inicial (sinal da cruz, saudação bíblica e etc); proclamação do Evangelho e homilia, e convite às preces; proclamação da ação de graças ou da louvação; convite ao Pai nosso e à comunhão; oração final e bênção” (Guia Litúrgico-Pastoral da CNBB, p. 60).

O QUE FAZER NO DOMINGO?

Reúnam-se no dia do Senhor [= dominica dies = domingo] para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro” (Didaqué 14,1. 96 dC)

O Papa Silvestre instruiu os clérigos a guardar as feriae [feriados]. E, de fato, baseando-se numa antiga tradição, ele chamou o primeiro dia (da semana) de “Dia do Senhor!”, no qual a luz foi feita no princípio e no qual se celebra a Ressurreição de Cristo”.

No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que havia de viajar no dia seguinte, conversava com os discípulos e prolongou a palestra até a meia-noite” (At 20,7).

A palavra é originária do latim dies Dominicus, que significa “dia do Senhor”. Existe, nessa mesma acepção, em castelhano (Domingo),

Em 325 d.C. as orientações decididas no Primeiro Concílio de Nicéia, estabelecem universalmente o primeiro dia da semana como dia sagrado, o nome do primeiro dia da semana foi modificado de Prima Feria para Dies Domenica. Decisão mantida pela maioria das denominações cristãs até a atualidade.

Facilitador: Manoel Lima de Oliveira

[17] Cf. JOÃO PAULO II. Carta apostólica Dies Domini, especialmente nn. 31-51: AAS 90 (1998), PP. 713-766, aqui PP. 731-746; João Paulo II. Carta apostólica Novo Millenio ineunte, nn. 35-36, 6 de janeiro de 2001: AAS 93 (2001), PP. 290-292;João Paulo II. Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 41: AAS 95 (2003), PP. 460-461.

[18] Conc. Ecum. Vaticano II. Decreto sobre o Ministério e a vida sacerdotal, presbyterorum ordinis, n. 6; cf. João Paulo II, Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, nn. 22 e 33: AAS 95 (2003), PP. 448 e 455-456.

[19] Cf. S. Cong. Dos Ritos. Instrução Eucharisticum mysterum, n. 26: AAS 59 (1967), PP. 555-556; Cong. Para Culto dominicais na ausência do Divino. Diretorio para as celebrações do sacerdote, Christi Ecclesia, nn. 5 e 25, 2 de junho de 1988: Notitiae 24 (1988), pp. 366-378, aqui 367-372.

[20] Cf. Cong. Para Culto Divino. Diretório para as celebrações dominicais na ausência do sacerdote, Christi Ecclesia, n. 18, 2 de junho de 1988: Notitiae 24 (1988), pp. 366-378, aqui p. 370.

[21] Cf. João Paulo II. Carta Dominicae Cenae, n. 2: AAS 72 (1980), p. 116.

[22] Cf. João Paulo II. Carta apostólica Dies Domini, n. 49: AAS 90 (1998), p. 774; Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 41: AAS 95 (2003), PP. 460-461; Código de Direito Canônico, Cân. 1246-1247.

[23] Código de Direito Canônico, cân 1248, § 2; cf. Cong. Para o Culta Divino. Diretório para as celebrações dominicais na ausência do sacerdote Christi Ecclesia, nn. 1-2,2, 2 de junho de 1988: Notitiae 24 (1988), pp. 366-378, aqui 366.

[24] João Paulo II. Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 33: AAS 95 (2003), pp. 455-456.

[25] Cf. Cong. Para Culto Divino. Diretório para as celebrações dominicais na ausência do sacerdote, Christi Ecclesia, n. 22, 2 de junho de 1988: Notitiae 24 (1988), pp. 366-378, aqui p. 371.

[26] João Paulo II. Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 30: AAS 95 (2003), pp. 453-454; cf. também Pont. Cons. Para Promoção da Unidade dos Cristãos. Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre ecumenismo La recherche de l’unité, n. 15: AAS 85 (1993), -1.085.

[27] Cf. Pont. Cons. Para Promoção da Unidade dos Cristãos. Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre ecumenismo La recherche de l’unité, n. 101: AAS 85 (1993), -.1.081-1.082.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

TEMPO COMUM


Além dos tempos com características próprias, restam no ciclo anual 33 ou 34 semanas. Nelas, não se celebra algum aspecto especial do mistério de Cristo, mas comemora-se o próprio mistério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domingos. Este é o tempo comum.

Começo e fim do tempo comum:       Inicia-se na segunda-feira seguinte ao domingo depois do dia 6 de janeiro e se estende até a terça-feira antes da Quaresma. Recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das primeiras vésperas do primeiro domingo do advento.

Culto aos dias dos Santos: A celebração do mistério de Cristo se completa na festa dos Santos, que são membros gloriosos da Igreja. Sem dúvida, Jesus é o único Santo. E é tão santo que comunica aos homens a sua própria santidade. No principio do Cristianismo a Igreja festejava os mártires que tinham dado a vida pela fé (Cf. Ap 14,1-5; 21,4). Terminadas as perseguições o povo começa a venerar os grandes heróis da santidade: bispos, eremitas, etc…

O vaticano II afirma que os santos são “os nossos irmãos, amigos e benfeitores”. A Igreja proclama “O Mistério Pascal (SC nº 40) nos santos que sofreram e são glorificados em Cristo”.

40. Mas, como urge em alguns lugares e circunstâncias especiais fazer uma adaptação mais profunda da liturgia, é que se torna por isso mesmo mais difícil:

1) A competente autoridade eclesiástica territorial, a que se refere o art. 22 § 2, considere, com muita prudência e atenção, o que, neste aspecto, poderá oportunamente ser aceito no culto divino das tradições e índole de cada povo. Proponham-se à Sé Apostólica as adaptações julgadas úteis ou necessárias, para serem introduzidas com seu consentimento.

2) Para se fazer a adaptação com a devida cautela, a Sé Apostólica poderá dar, se for necessário, à mesma autoridade eclesiástica territorial a faculdade de permitir e dirigir as experiências prévias que forem precisas, com grupos aptos para isso e por tempo determinado.

3) Como as leis litúrgicas, sobretudo nas missões, costumam trazer dificuldades especiais, quanto à adaptação, ao elaborá-las, recorra-se a pessoas competentes nesta matéria.”

Cada Igreja particular honra os santos mais ligados à piedade popular. No fim do ano, reunimos numa só festividade todos os santos, de todos os povos e nações que já chegaram à Glória do Pai.

            O Lugar de Maria:    Entre todos os eleitos, resplandece a figura de Maria de Nossa Senhora – Mãe de Jesus e Mãe do Povo de Deus. Ela é “membro eminente e modelo da Igreja”. Várias vezes, anualmente, desfilam diante de nós as festas de Nossa Senhora – sem esquecer o mês de maio, a ela totalmente consagrado.

IGMR 375.        As Missas votivas sobre os mistérios do Senhor ou em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, dos Anjos, de algum Santo ou de todos os Santos, podem ser celebradas para favorecer a devoção dos fiéis nos dias de semana do Tempo comum, mesmo que ocorra uma memória facultativa. Contudo não podem ser celebradas como votivas as Missas que se referem aos mistérios da vida do Senhor ou da Bem-aventurada Virgem Maria, com exceção da Missa de sua Imaculada Conceição, pelo fato de a sua celebração estar unida ao círculo do ano litúrgico.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

A Santíssima Trindade


 Primeiramente, cabe contar uma pequena história que nos ajudará a entender a posterior explicação.

 Conta-se que Santo Agostinho andava em uma praia meditando sobre o mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas…

 Enquanto caminhava, observou um menino que portava uma pequena tigela com água. A criança ia até o mar, trazia a água e derramava dentro de um pequeno buraco que havia feito.

 Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia.

 O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -“estou querendo colocar a água do mar neste buraco“.

 Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe: -“mas você não percebe que é impossível?”.

 Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe: “ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!“. E continuou: “Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria. Assim sucede com os mistérios da religião: quem pretende compreendê-los deslumbra-se e quem se obstinasse em os perscrutar perderia totalmente a fé” (Sto. Agost).

 Só poderíamos compreender perfeitamente a Santíssima Trindade se nós fossemos ‘deus’. Podemos, contudo, por meio da razão iluminada pela fé, chegar a um conhecimento muito útil dos mistérios, considerando certas analogias da natureza. Citemos algumas: o raio branco de luz, sendo apenas um, pode ser decomposto em vermelho, amarelo e azul; a ametista brilha de três cores diferentes, segundo o lado em que se observa: é purpúrea, violeta e rósea, sem ser mais do que uma pedra. O fogo queima, ilumina e aquece, sendo apenas fogo, etc.

 Bem, a Santíssima Trindade é superior à capacidade humana de entendimento, mas não contraria a razão. Dizer que existe “um Deus em três pessoas” é superior à capacidade de compreensão humana, mas não é o mesmo que dizer que é “um Deus em três deuses“, que seria contrariar a razão humana.

 Ou seja, o mistério é conhecido, mas não é compreendido em sua totalidade.

 Sabendo disso, a Igreja aconselha muita cautela na busca de conhecer certos mistérios superiores à nossa compreensão, conforme ensina o Catecismo Romano, transcrevendo a Bíblia: “Quem quer sondar a majestade, será oprimido pelo peso de sua glória” (Prov. 25, 27).

O Conhecimento através da Revelação

 Portanto, a Santíssima Trindade só é conhecida através da Revelação, através das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que era Deus e Homem verdadeiro.

 Disse Nosso Senhor: “Ensinai todas as gentes, e batizai-as em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Na sua última prece, o Salvador pede que seus discípulos sejam um como seu Pai e Ele não são mais que um (S. Jo., 17, 21). Também afirma: “Meu Pai e eu somos um” (Jo., 10, 30), deixando clara a unidade de natureza entre o Pai e o Filho.

 Em diversas passagens, os apóstolos reconhecem Nosso Senhor como “Filho de Deus“, que prometeu enviar o “Espírito Santo” sobre eles, que ressuscitou dos mortos ao terceiro dia pelo seu próprio poder, etc.

 Na promessa de enviar o Espírito Santo, Nosso Senhor, antes de se elevar ao Céu, anunciou aos Apóstolos que o Pai lhes enviará o Espírito Santo, que os ensinaria e os fortaleceria na fé: “Rogarei a meu Pai e Ele vos mandará outro consolador” (Jo 14, 16, 26), “o espírito da verdade” que “vos ensinará tudo” (Jo, 14, 26). Ora, como não há ninguém senão Deus (a verdade), capaz de ensinar tudo, resulta dessas palavras que tal consolador é Deus, como o Pai e o o Filho que hão de mandá-lo. S. Pedro repreende Ananias que procurou iludir o Espírito Santo, e acusa-o de ter assim mentido a “Deus”, não aos homens (Act. 4, 5, 11) Na mesma passagem sobre o Espírito Santo, fica claro que as pessoas são distintas: O Pai que envia, o Filho que roga ao Pai, o Espírito Santo que será enviado.

 Em II Cor, 13, 13 está escrito: “Estejam com todos vós a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo“!.

 No “batismo” de Nosso Senhor, ao sair da água, os céus se abriram e o “Espírito, como uma pomba“, desceu sobre Nosso Senhor e uma voz “veio dos Céus: “Tu és o meu filho amado, em ti me comprazo“.

 Em São Mateus, lemos: “Só o Pai conhece o Filho e o Filho conhece o Pai“(Mt 11, 27; Lc. 10, 22). Em S. João, está que o Espírito Santo “procede do Pai“, que é “enviado pelo Filho” (Jo 15, 26; 16, 7).

 Respondendo a Felipe, que lhe havia pedido para ver o Pai: “Filipe, quem me viu, viu também o Pai. Como é que dizes: Mostra-nos o Pai? Então não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim” (Jo, 14, 9 e 10).

 O mesmo que Jesus Cristo explica da sua união com o Pai, afirma-o igualmente do Espírito Santo. “Quando tiver vindo o Consolador que eu vos mandarei de junto de meu Pai, o Espírito de verdade que procede do Pai, Ele dará testemunho de mim” (Jo, 15, 26). Ora, o que procede de Deus tem, forçosamente, natureza idêntica à de Deus.

 Dessa forma, fica clara a distinção de três pessoas em um só Deus, ou seja, três pessoas de mesma natureza, poder e glória.

 Já no Antigo Testamento a Trindade estava implícita. Citemos algumas passagens: Os sacerdotes judeus deviam, ao abençoar o povo, invocar três vezes o nome de Deus (Num. 6, 23). Isaías diz-nos (6, 3) que os Serafins cantam nos céus: Santo, santo, santo é o Deus dos exércitos. Notemos sobretudo o estranho plural empregado por Deus na criação do homem: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança“(Gen. 1, 26). No momento da confusão de Babel: “Vinde, diz o Senhor, confundamos a sua linguagem” (Gen. 11, 7). Por que esse plural? Já, depois da culpa de Adão, o mesmo livro sagrado representa Deus dizendo ironicamente: “Portanto eis Adão que se tornou com um de nós, vamos agora impedir-lhe que levante a mão à árvore da vida”(Gen. 3, 22). E David escrevia no Salmo CIX: “Disse o Senhor ao meu Senhor: assenta-te à minha direita“.

 Encontram-se, no Antigo Testamento, duas expressões para designar a divindade: uma é “Jehováh“, outra é “Eloim“. Pelo parecer de todos os hebraizantes, a primeira se aplica ao mesmo ser de Deus, à sua suprema essência: está sempre no singular. A segunda exprime a idéia da presença de Deus e do seu poder: vem sempre no plural e significa “os deuses”; mas, o que não deixa de surpreender é que esta palavra sempre no plural, rege sempre no singular o verbo que a segue. Assim o primeiro versículo da Bíblia traduzir-se-ia literalmente: “No princípio, “os deuses” fez o céu e a terra“. Os sábios não duvidam em ver, nesta palavra “Eloim” e no modo de se usar dela, uma expressão que deixa entender a existência de várias pessoas em Deus.

 Na Tradição da Igreja encontramos várias provas da Santíssima Trindade.

 a) Testemunho dos Mártires. Era para confessar a sua fé na divindade das três pessoas e particularmente em Nosso Senhor, que numerosos mártires sofriam os suplícios mais cruéis. Assim, para citarmos um exemplo apenas, S. Policarpo (166), discípulo de S. João, exclamava em frente da fogueira acesa: “Eu vos glorifico em todas as coisas, a vós, ó meu Deus, com vosso eterno e divino Filho, Jesus Cristo, a quem, com o Espírito Santo, seja honra, agora e para sempre“.

 b) Testemunho dos Padres da Igreja. Nos escritos de certos Padres, encontram-se testemunhos valiosíssimos desta nossa crença. Santo Inácio de Antioquia fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo como sendo três pessoas às quais devemos respeito igual. Santo Irineu diz que “a Igreja, espalhada pelos Apóstolos até os confins do universo, crê em Deus Pai todo-poderoso, em Jesus Cristo, seu Filho, encarnado por nossa salvação e no Espírito Santo que falou pelos profetas“. Claríssimas são, também, na sua conclusão, as palavras de Tertuliano: “O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito-Santo é Deus e Deus é cada um deles“.

 c) Prática da Igreja. De acordo com sua crença, a Igreja sempre administrou o batismo em nome das três pessoas. Ocupa o primeiro lugar na liturgia, o mistério da Santíssima Trindade. Dela fazem menção todas as bênçãos, todas as orações, todas as cerimônias, quer por meio do sinal da cruz, quer pela dexologia: “Glória ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo“.

 Ademais, sem a divindade de Nosso Senhor, não haveria a redenção, que consiste na crucifixão e morte de Nosso Senhor sobre a Cruz. Se Cristo não fosse Deus, o “pecado original” e os nossos “pecados atuais” não poderiam ter sido remidos, visto terem um valor infinito (pois foram praticados contra Deus, que é infinito) e precisarem de um ser infinito para os expiar.

Uma  pequena explicação filosófica

 Para dar uma explicação mais simples, sendo Deus onipotente e sendo o existir próprio à eternidade de Deus e à sua natureza: “Eu sou aquele que é“, a imagem que Deus tem de si mesmo é o seu Filho, o verbo de Deus.

 A este pensamento vivo em que Deus se expressa perfeitamente a si mesmo chamamos Deus Filho. Deus Pai é Deus conhecendo-se a si mesmo; Deus filho é a expressão do conhecimento que Deus tem de si. Assim, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade é chamada Filho, precisamente porque é gerada desde toda a eternidade, engendrada na mente divina do Pai. Também a chamamos Verbo de Deus, porque é a “palavra mental” em que a mente divina expressa o pensamento sobre Si mesmo.

 Depois, Deus Pai (Deus conhecendo-se a Si mesmo) e Deus Filho (o conhecimento de Deus sobre Si mesmo) contemplam a natureza que ambos possuem em comum. Ao verem-se (falamos, naturalmente, em termos humanos), contemplam nessa natureza tudo o que é belo e bom – quer dizer, tudo o que produz amor – em grau infinito. E assim, a vontade divina origina um ato de amor infinito para com a bondade e a beleza divinas. Uma vez que o amor de Deus por Si mesmo, tal como o conhecimento de Deus sobre Si mesmo, é da própria natureza divina, tem que ser um amor vivo. Este amor, infinitamente intenso, que eternamente flui do Pai e do Filho, é o que chamamos Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho. É a terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

 Para deixar mais claro o assunto, ainda é necessário fazer uma distinção entre a pessoa (personalidade), e a natureza (que em Deus se confunde com a e essência e a substância).

 O Mistério da Santíssima Trindade consiste propriamente no fato de uma essência ou natureza única que subsiste em três pessoas.

 Pessoa é a substância completa dotada de razão individual e autônoma. Na verdade, possuem todos os homens a mesma natureza: todos têm corpo e alma racional. Entretanto, esta natureza comum existe em cada um deles de modo diferente. Ora, o que distingue um homem de outro homem, o que cada um tem de especial, é que constitui sua autonomia, seu “eu” e chama-se “personalidade”, a “pessoa”.

 Desta forma, Deus Filho tinha a mesma natureza de Deus Pai, mas não era a mesma Pessoa.

Uma explicação mais acessível

 Suponha que você se olha em um espelho de corpo inteiro. Você vê uma imagem perfeita de si mesmo, com uma exceção: não é senão um reflexo no espelho. Mas se a imagem saísse dele e se pusesse ao seu lado, viva e palpitante como você, então sim, seria a sua imagem perfeita. Porém, não haveria dois ‘vocês’, mas um só ‘você’, uma natureza humana. Haveria duas ‘pessoas’, mas só uma mente e uma vontade, compartilhando o mesmo conhecimento e os mesmos pensamentos.

 Depois, já que o amor de si (o amor de si bom) é natural em todo ser inteligente, haveria uma corrente de amor ardente e mútuo entre você e a sua imagem. Agora, dê asas à sua fantasia e pense na existência desse amor como uma parte tão de você mesmo, tão profundamente enraizado na sua própria natureza, que chegasse a ser uma reprodução viva e palpitante de você mesmo. Este amor seria uma ‘terceira pessoa’ (mas, mesmo assim, nada mais que um ‘você’, lembre-se; uma só natureza humana), uma terceira pessoa que estaria entre você e a sua imagem, e os três, de mãos dadas: três pessoas numa só natureza humana.

 Esse exemplo, muito imperfeito, pode nos ajudar um pouco a entender a relação entre as três Pessoas da Santíssima Trindade: Deus Pai “olhando-se” a Si mesmo em sua mente divina (criadora) e mostrando ali a Imagem de Si, tão infinitamente perfeita que é uma imagem viva: Deus Filho; e Deus Pai e Deus Filho amando como amor vivo a natureza divina que ambos possuem em comum: Deus Espírito Santo. Três pessoas divinas, uma natureza divina.

 É claro, é só um exemplo, muito imperfeito, mas que nos ajuda a compreender o grande mistério que é a Santíssima Trindade, base de nossa Fé, fundamento de nossa Redenção, sustentáculo de nossas vidas e no qual, todos os dias, através do sinal da Cruz, nós afirmamos a nossa fé: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

 Extraído, com adaptações, de vários livros.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Passos da Leitura Orante


Retire-se, faça silêncio, respire, tranqüilize-se…

Leia atentamente o Salmo… releia… preste atenção nas palavras, nas imagens, sublinhando com lápis o que chama atenção ou memorizando o texto. Não tenha pressa, nem busque resultado imediato… Deixe simplesmente as palavras ecoarem em seu coração…

Durante a leitura:

a) Preste atenção no texto em si: sua estrutura, a palavra ou palavras chaves, a situação do salmista ou da comunidade que está na origem deste salmo: sentimentos, imagem que tem de Deus, atitude de fé…

É importante, em algum momento, talvez antes da oração, recorrer a infor-mações de quem estudou mais a fundo o salmo e pode nos ajudar a alargar a consciência a respeito do sentido que está por trás das palavras e fornecer dados a respeito da época histórica a que pertence o salmo, o gênero literário, etc.

b) Observe a relação entre salmo e a experiência de Jesus: Se quando a Igreja ora e salmodia é o Cristo que ora (SC 7) e se “quem salmodia não o faz tanto em seu próprio nome, mas em nome de todo o Corpo de Cristo, e ainda na pessoa do próprio Cristo (..)” (IGLH n. 108), então é importante descobrir no salmo a própria voz do Cristo em oração. Identifique as palavras do salmo que traduzem a experiência de Jesus em sua missão, na relação com o Pai, na sua experiência de morte-ressurreição.

Preste atenção ainda na experiência humana sua, ou de outras pessoas que você conhece, colhendo do salmo a força das palavras que expressam o que você experimenta em sua vida. João Cassiano lembra que cada pessoa assimila os sentimentos dos salmos pela sua própria experi6encia (…) e não tanto pelo conhecimento vindo de alguma explicação, colhendo do texto a força das palavras, por ter experimentado na própria vida aquilo que está escrito nele. Deixe as palavras do salmo ecoarem no coração, entre no sentimento do salmista e de Jesus e deixe existir diante de Deus o mais profundo do seu coração. Acolha a força terapêutica da ação de deus que cura o coração ferido e reconstrói as ruínas…

Oração pessoal e celebração comum

Seguindo estes passos na oração pessoal, vamos nos familiarizando com o salmo, estabelecendo com ele, e através dele com Deus, uma relação de amizade e intimidade.

É o jeito que a liturgia nos educa quando propõe que recitemos ou cantemos o salmo pausadamente, de forma alternada, “prestando atenção ao sentido pleno dos salmos, especialmente ao sentido messiânico” (IGLH 109), “meditando, verso por verso, sempre disposto no coração a dar respostas, como requer o Espírito que inspirou o salmista e que move também os devotos preparados para receber a sua graça “(IGLH 104). Ou ainda, quando nos pede uma tal atitude que, “ao salmodiarmos, nossa mente concorde com nossa voz”.

Os diversos elementos que aparecem junto ao salmo na Liturgia das Horas ou Ofício Divino das Comunidades seguem a lógica destes passos, com uma intenção pedagógica: O título que precede o salmo ( na LH) ou a introdução ( no ODC) fazem referência ao contexto de origem do salmo; o versículo do novo testamento explicita a relação do salmo com Jesus; as antífonas acentuam algum aspecto do salmo em relação ao mistério celebrado, ajudando a compreender os diferentes sentidos do salmo nos diferentes momentos da liturgia; o silêncio e a repetição de algum verso depois da recitação comum dá espaço para a repercussão da salmo na vida; a oração sálmica atualiza o salmo em forma de oração cristã.

Meditação litúrgica do salmo 91
Penha Carpanedo

Salmo 91(90)

1- Tu que habitas ao amparo do Altíssimo,
e vives à sombra do Onipotente,

2- dize ao Senhor: “Meu refúgio, minha fortaleza,
meu Deus, eu confio em ti!”

3- Ele te livrará do laço do caçador,
e da peste destruidora.

4- Ele te cobrirá com suas penas,
sob suas asas te refugiarás,
seu braço é escudo e armadura.

5- Não temerás o terror da noite
nem a flecha que voa de dia,

6- nem a peste que caminha na treva,
nem a epidemia que devasta ao meio-dia.

7- Caiam mil ao teu lado
e dez mil à tua direita,
a ti nada atingirá.

8- Basta que olhes com teus olhos,
para ver o salário dos ímpios,

9- porque fizeste do Senhor o teu refúgio,
tomaste o Altíssimo como defensor.

10- A desgraça jamais te atingirá,
e praga alguma chegará à tua tenda,

11- pois ele ordenou aos seus anjos
que te guardem em teus caminhos;

12- eles te levarão em suas mãos,
para que teu pé não tropece numa pedra;

13- caminharás sobre cobras e víboras,
pisarás leões e dragões.

14- Eu o livrarei; porque a mim se apegou,
eu o protegerei, pois conhece o meu nome.
Ele me invocará e eu responderei.

15- Na angústia estarei com ele,
eu o livrarei e o glorificarei;
16 Vou saciá-lo com longos dias
e lhe farei ver a minha salvação.

Algumas informações sobre o salmo 91

O salmo 91 é bastante conhecido e usado. Muitas pessoas se identificam com este salmista perseguido e refugiado no templo de Deus, à espera de uma palavra de salvação. Lembro de Cinira, uma moradora de rua que falava deste salmo com total familiaridade e o rezava de cor. Nosso propósito, nesta coluna, é oferecer elementos para favorecer uma maior aproximação entre a vida de hoje e o salmo vindo de outro contexto, de modo que se possa alargar o horizonte da nossa compreensão e da nossa oração.

1- Leitura do texto em si

  1. a) Como o salmo está estruturado?

    Olhando atentamente o salmo 91, podemos descobrir três momentos:

O primeiro é uma espécie de abertura (v.1-2). Alguém, ligado ao templo de Jerusalém, vendo a situação do refugiado, convida-o a depositar sua confiança em Deus, sugerindo uma fórmula: “Meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus, eu confio em ti”.

O segundo momento é a parte central, vai do v. 3 ao 13. Nos v. 3-8, a ação de Deus é apresentada com imagens de guerra. Deus é visto como defensor que livra do laço do caçador e da peste destruidora. Por isso, para quem confia em Deus não há o que temer, nem os perigos da noite, nem os do dia. Basta abrir os olhos para ver o julgamento que Deus reserva aos que são ímpios. O v. 9 reforça o motivo desta confiança ao retomar o que já foi dito na abertura. Nos v. 10-13, o salmo continua descrevendo a ação de Deus com imagens do deserto (tenda, caminho). Aquele que coloca sua confiança em Deus terá que romper caminho difícil, cheio de ameaças, mas haverá anjos guardando os seus passos. Com esta proteção de Deus, poderá pisar até o dragão. Lembra Isaías 11,8; Marcos 16,18 e Lucas 10,19.

O terceiro momento é a conclusão do salmo, v. 14-15. O próprio Deus fala, recordando três atitudes do peregrino refugiado: “a mim se apegou”, “conhece o meu nome”, “ele me invocará”. E cumpre sete ações em seu favor : livrarei , protegerei , responderei , estarei com ele , glorificarei (restabelecer a honra) , vou saciá-lo e farei ver a minha salvação.

b) Qual terá sido o motivo que levou à composição deste salmo?

Sabe-se que, ao longo de sua história, o templo de Jerusalém cumpriu a função de oferecer asilo a refugiados. Aí a pessoa estava protegida. O salmo 91 guarda a memória da experiência de uma pessoa injustamente perseguida que se refugia no templo, ou, ao menos, dorme uma noite na porta do santuário, pedindo a Deus que a proteja e liberte dos perigos que corre.

A composição do salmo parece ser de origem litúrgica, uma espécie de homilia endereçada a alguém que pernoita nos átrios do Altíssimo (v. 1). Quem fala no salmo é um sacerdote, sugerindo ao refugiado uma atitude de confiança no Senhor. Do ponto de vista literário, é classificado como salmo sapiencial, e não de confiança, como parece à primeira vista, visto não ser o salmista que expressa a confiança em Deus e sim outra pessoa. Do ponto de vista histórico, podemos situá-lo depois do exílio, época de instabilidade e deserções, com matizes da literatura sapiencial e apocalíptica, sugerindo o tempo dos Macabeus.

c) Qual o rosto de Deus que o salmo revela?

Procure identificar no salmo os vários nomes de Deus: Altíssimo e Onipotente, Refúgio, Fortaleza, Libertador, Defensor… “Altíssimo” é o nome de um dos antigos deuses de Canaã (El Shaddai). Poderia significar “Deus do céu, ou das alturas, ou dos mais altos montes”. Seria como, hoje, no Brasil, chamar a Deus de Olorum (em língua ioruba: Senhor do Orum: céu). “Todo-poderoso” faz referência a outro nome antigo de um deus tribal. “Refúgio, Defensor” são qualidades evocadas quando o povo chamava Deus de “Rahamin” (Compaixão), nome de uma antiga divindade feminina: “Mãe de amor uterino”. Até na linguagem, o salmo parte da oração dos mais pobres e abre-se ecumenicamente ao modo como o povo ora a Deus.

Conhecer o nome tem uma importância neste salmo, faz alusão à intimidade entre o Deus do Sinai e Moisés. Na última parte do salmo (v. 14-16), as sete ações de Deus em favor do refugiado lembram as ações de Deus em favor do seu povo, no Êxodo. Como no salmo (v.11-12), também no Êxodo (23,20 e 32,34) aparecem anjos cuidando dos passos do caminheiro para que, acima de tudo, a vida seja preservada durante o caminho. É o rosto de um Deus que ouve a aflição e se compadece: um rosto de Deus que é pai e mãe de compaixão.

2- Atualizando o texto

Todas estas informações nos ajudam a ampliar a compreensão do salmo a partir do seu contexto de origem. É uma base importante para perguntarmos:

a) Qual o sentido novo que o salmo adquire lido a partir de Jesus?

No tempo de Jesus, o templo deixou de ser “amparo do Altíssimo” para os necessitados de abrigo. Jesus se faz, ele mesmo, o lugar de refúgio dos pobres, das mulheres perseguidas, das crianças indefesas.

Também podemos identificar esta pessoa refugiada à sombra do Onipotente com o próprio Jesus, totalmente fracassado em sua missão, perseguido, caluniado, mas plenamente confiado na proteção amorosa do Pai. Nos relatos de Mateus (4,6) e de Lucas (4,10-11) sobre a tentação de Jesus no deserto, os versículos 11-12 do salmo 91 são colocados na boca do diabo ao tentar Jesus. Jesus não aceita o serviço dos anjos em favor do diabo e dos seus caprichos. Os anjos estão a serviço do projeto de Deus. De fato, no relato de Mateus (v. 11), depois de ter vencido todas as tentativas do diabo, Jesus deixa-se servir pelos anjos, mas aí a serviço da missão que o Pai lhe confia.

As imagens do salmo nos remetem a momentos de crise em que tudo parece cair aos pedaços… São momentos terríveis, às vezes provocados por situações injustas… mas, qualquer que seja o motivo, o momento da derrota traz em si uma graça, porque nos permite perceber dimensões da vida que não seriam possíveis em condições normais.

Este foi o caminho de Jesus. Dele se diz que “durante sua vida na terra dirigiu pedidos a Deus, com clamores e lágrimas, àquele que podia livrá-lo da morte, e foi ouvido. Embora sendo filho, aprendeu a obedecer através do sofrimento…” (Hb 5,7). Tudo caiu aos pedaços no Calvário, mas ele não desistiu e não entregou os pontos. Foi assim que “ele se tornou fonte de salvação eterna para quem lhe obedece” (Hb 5,9).

b) Dificuldade que o texto apresenta hoje, há muita gente se dando conta de como textos religiosos podem, implicitamente e sem querer, favorecer uma mentalidade guerreira ou excludente. Visto por este ângulo, este salmo contém versículos que podem provocar escândalos. Como podemos, hoje, orar: “Caiam mil ao teu lado, dez mil à tua direita, Deus te protegerá e a ti nada ocorrerá”? Que imagem de Deus temos e testemunhamos?

Historicamente, estes versos referiam-se à peste que assolava e matava multidões. Talvez se referisse mesmo a um incidente concreto, como o que ocorreu com o exército assírio de Senaquerib, cercando Jerusalém. Mas, como explicar isso cada vez que o salmo é cantado em uma Igreja ou rezado em particular?

Algumas comunidades pulam este versículo em sua oração e outras traduzem-no de modo a deixar mais claro que Deus não é indiferente com a sorte de quem está no chão, nem nós podemos ser.

c) Quando e com que sentido este salmo aparece na liturgia?

Na liturgia das horas ele aparece na oração da noite e oferece versos para responsos do tempo quaresmal. No missal romano, é cântico proposto para o primeiro domingo da quaresma. Até hoje, na liturgia da sinagoga, é usado como oração da noite e do sábado.

Na oração da noite, este salmo nos prepara para um sono tranqüilo, livre das insônias, dos pesadelos e do medo da violência e nos reporta a outras noites; quer infundir em nós confiança para vencer a noite escura que, muitas vezes, temos que atravessar em pleno dia, situações nas quais nenhuma luz conseguimos enxergar. O salmo traz em si a promessa de que, mesmo nestas situações, o Senhor está conosco e nos acompanha.

No primeiro domingo da quaresma do ano C, este salmo responde à leitura de Deuteronômio 26,4-10, que relata o mais antigo credo israelita, formulado não em termos de verdades abstratas, mas de recordações de tudo o que Deus fez com o seu povo desde o Egito até a terra prometida, passando pelo deserto.

Admitindo as dificuldades acima mencionadas, o salmo ajuda a assembléia a reconhecer a presença tão próxima de Deus, atuando hoje na vida do povo. Se esta oração vem de uma pessoa perseguida e injustiçada, para rezá-lo bem, é preciso nos colocarmos em comunhão efetiva com a multidão de pobres e excluídos que, hoje, no mundo nem contam com uma porta de templo para dormir. Muitas vezes, nem podem legalmente refugiar-se em um templo. O salmo é uma palavra ou oráculo que um sacerdote ou levita dizia como palavra de ânimo e consolação para quem vinha buscar abrigo e defesa. Ao proclamá-lo na assembléia litúrgica, é importante fazê-lo como uma palavra de consolação a tantas pessoas em situação de angústia e desânimo.

A partir desta chave de leitura, o salmo se abre às experiências da comunidade e até pessoais. Ouvindo o salmo, alguém passando por uma situação de desmoronamento total em sua vida, por qualquer motivo que seja, de repente recebe a palavra do salmo como uma promessa de salvação da parte de Deus. Quem sabe, uma outra pessoa, sentindo-se esmagada sob o fardo de algum tipo de dependência, sinta-se encorajada a buscar uma saída. Em um de seus sermões quaresmais, São Bernardo (1090-1153) dizia: “Entre todos os salmos, não há nenhum outro tão adaptado para encorajar as pessoas tímidas, admoestar as negligentes e instruir quem ainda se encontra distante da busca da perfeição”.

d) Momento individual

Essa experiência comunitária poderá continuar e ganhar maior profundidade na oração pessoal. Lendo e relendo o salmo, você sente que ele fala da sua vida? Alguma vez você já se sentiu perseguido, tendo que escapar para não morrer? Lembra-se de alguém que viveu na pele uma situação assim? Ouvindo as palavras do sacerdote ao refugiado, você se reconhece nelas? Alguma vez você teve a experiência de ver desmoronar tudo ao seu redor e assim mesmo ter ficado de pé? Ou de perceber anjos de Deus te guiando pelo caminho?

Se alguma palavra toca mais fundo em você, detenha-se nesta palavra, deixe-a tomar conta de você, entre na confiança de Jesus com o Pai e faça desta palavra a sua oração.

Uma oração espontânea, ou uma oração sálmica, pode concluir este momento. Por exemplo:

Ó Deus, força dos fracos, tu que nos promete devolver a honra e estar conosco em todos os nossos caminhos, tem piedade de mim. Ajuda-me a tomar o caminho do amor como saída para a minha miséria e fracasso, como fez Jesus, teu filho. Dá ao teu povo que sofre a graça de crer na vitória pela força da páscoa de Jesus, nosso Senhor. Amém.

Texto tirado da Revista de Liturgia, nº 164 março/abril, 2001, p. 30

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Misericordiae Vultus


Misericordiae Vultus – Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia

Francisco

Bispo de Roma

Servo dos servos de deus a quantos lerem esta carta graça, misericórdia e paz.

1. Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. O Pai, « rico em misericórdia » (Ef 2, 4), depois de ter revelado o seu nome a Moisés como « Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade » (Ex 34, 6), não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a sua natureza divina. Na « plenitude do tempo » (Gl 4, 4), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor. Quem O vê, vê o Pai (cf. Jo 14, 9). Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa,[1]Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus.

2. Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o acto último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

3. Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes.

O Ano Santo abrir-se-á no dia 8 de Dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição. Esta festa litúrgica indica o modo de agir de Deus desde os primórdios da nossa história. Depois do pecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humanidade sozinha e à mercê do mal. Por isso, pensou e quis Maria santa e imaculada no amor (cf. Ef 1, 4), para que Se tornasse a Mãe do Redentor do homem. Perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa. Na festa da Imaculada Conceição, terei a alegria de abrir a Porta Santa. Será então uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança.

No domingo seguinte, o Terceiro Domingo de Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Latrão. E em seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais. Estabeleço que no mesmo domingo, em cada Igreja particular – na Catedral, que é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral ou então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta da Misericórdia. Por opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta também nos Santuários, meta de muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares sagrados, se sentem tocados no coração pela graça e encontram o caminho da conversão. Assim, cada Igreja particular estará directamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual. Portanto o Jubileu será celebrado, quer em Roma quer nas Igrejas particulares, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira.

4. Escolhi a data de 8 de Dezembro, porque é cheia de significado na história recente da Igreja. Com efeito, abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão do Concílio Ecuménico Vaticano II. A Igreja sente a necessidade de manter vivo aquele acontecimento. Começava então, para ela, um percurso novo da sua história. Os Padres, reunidos no Concílio, tinham sentido forte, como um verdadeiro sopro do Espírito, a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais compreensível. Derrubadas as muralhas que, por demasiado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de maneira nova. Uma nova etapa na evangelização de sempre. Um novo compromisso para todos os cristãos de testemunharem, com mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai.

Voltam à mente aquelas palavras, cheias de significado, que São João XXIII pronunciou na abertura do Concílio para indicar a senda a seguir: « Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade. (…) A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecuménico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados ».[2] E, no mesmo horizonte, havia de colocar-se o Beato Paulo VI, que assim falou na conclusão do Concílio: « Desejamos notar que a religião do nosso Concílio foi, antes de mais, a caridade. (…) Aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio. (…) Uma corrente de interesse e admiração saiu do Concílio sobre o mundo actual. Rejeitaram-se os erros, como a própria caridade e verdade exigiam, mas os homens, salvaguardado sempre o preceito do respeito e do amor, foram apenas advertidos do erro. Assim se fez, para que, em vez de diagnósticos desalentadores, se dessem remédios cheios de esperança; para que o Concílio falasse ao mundo actual não com presságios funestos mas com mensagens de esperança e palavras de confiança. Não só respeitou mas também honrou os valores humanos, apoiou todas as suas iniciativas e, depois de os purificar, aprovou todos os seus esforços. (…) Uma outra coisa, julgamos digna de consideração. Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades ».[3]

Com estes sentimentos de gratidão pelo que a Igreja recebeu e de responsabilidade quanto à tarefa que nos espera, atravessaremos a Porta Santa com plena confiança de ser acompanhados pela força do Senhor Ressuscitado, que continua a sustentar a nossa peregrinação. O Espírito Santo, que conduz os passos dos crentes de forma a cooperarem para a obra de salvação realizada por Cristo, seja guia e apoio do povo de Deus a fim de o ajudar a contemplar o rosto da misericórdia. [4]

5. O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, 20 de Novembro de 2016. Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça. Confiaremos a vida da Igreja, a humanidade inteira e o universo imenso à Realeza de Cristo, para que derrame a sua misericórdia, como o orvalho da manhã, para a construção duma história fecunda com o compromisso de todos no futuro próximo. Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós.

6. « É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua omnipotência ».[5] Estas palavras de São Tomás de Aquino mostram como a misericórdia divina não seja, de modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da omnipotência de Deus. É por isso que a liturgia, numa das suas colectas mais antigas, convida a rezar assim: « Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis…»[6] Deus permanecerá para sempre na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso.

« Paciente e misericordioso » é o binómio que aparece, frequentemente, no Antigo Testamento para descrever a natureza de Deus. O facto de Ele ser misericordioso encontra um reflexo concreto em muitas acções da história da salvação, onde a sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição. Os Salmos, em particular, fazem sobressair esta grandeza do agir divino: « É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e ternura » (103/102, 3-4). E outro Salmo atesta, de forma ainda mais explícita, os sinais concretos da misericórdia: « O Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores » (146/145, 7-9). E, para terminar, aqui estão outras expressões do Salmista: « [O Senhor] cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas. (…) O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão » (147/146, 3.6). Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras. É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor « visceral ». Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.

7. « Eterna é a sua misericórdia »: tal é o refrão que aparece em cada versículo do Salmo 136, ao mesmo tempo que se narra a história da revelação de Deus. Em virtude da misericórdia, todos os acontecimentos do Antigo Testamento aparecem cheios dum valor salvífico profundo. A misericórdia torna a história de Deus com Israel uma história da salvação. O facto de repetir continuamente « eterna é a sua misericórdia », como faz o Salmo, parece querer romper o círculo do espaço e do tempo para inserir tudo no mistério eterno do amor. É como se se quisesse dizer que o homem, não só na história mas também pela eternidade, estará sempre sob o olhar misericordioso do Pai. Não é por acaso que o povo de Israel tenha querido inserir este Salmo – o « grande hallel », como lhe chamam – nas festas litúrgicas mais importantes.

Antes da Paixão, Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia. Assim o atesta o evangelista Mateus quando afirma que « depois de cantarem os salmos » (26, 30), Jesus e os discípulos saíram para o Monte das Oliveiras. Enquanto instituía a Eucaristia, como memorial perpétuo d’Ele e da sua Páscoa, Jesus colocava simbolicamente este acto supremo da Revelação sob a luz da misericórdia. No mesmo horizonte da misericórdia, viveu Ele a sua paixão e morte, ciente do grande mistério de amor que se realizaria na cruz. O facto de saber que o próprio Jesus rezou com este Salmo torna-o, para nós cristãos, ainda mais importante e compromete-nos a assumir o refrão na nossa oração de louvor diária: « eterna é a sua misericórdia ».

8. Com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto misericordioso, podemos individuar o amor da Santíssima Trindade. A missão, que Jesus recebeu do Pai, foi a de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude. « Deus é amor » (1 Jo 4, 8.16): afirma-o, pela primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João. Agora este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. A sua pessoa não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente. O seu relacionamento com as pessoas, que se abeiram d’Ele, manifesta algo de único e irrepetível. Os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. Tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele, nada há que seja desprovido de compaixão.

Vendo que a multidão de pessoas que O seguia estava cansada e abatida, Jesus sentiu, no fundo do coração, uma intensa compaixão por elas (cf. Mt 9, 36). Em virtude deste amor compassivo, curou os doentes que Lhe foram apresentados (cf. Mt 14, 14) e, com poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (cf. Mt 15, 37). Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era apenas a misericórdia, com a qual lia no coração dos seus interlocutores e dava resposta às necessidades mais autênticas que tinham. Quando encontrou a viúva de Naim que levava o seu único filho a sepultar, sentiu grande compaixão pela dor imensa daquela mãe em lágrimas e entregou-lhe de novo o filho, ressuscitando-o da morte (cf. Lc 7, 15). Depois de ter libertado o endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta missão: « Conta tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti » (Mc 5, 19). A própria vocação de Mateus se insere no horizonte da misericórdia. Ao passar diante do posto de cobrança dos impostos, os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era um olhar cheio de misericórdia que perdoava os pecados daquele homem e, vencendo as resistências dos outros discípulos, escolheu-o, a ele pecador e publicano, para se tornar um dos Doze. São Beda o Venerável, ao comentar esta cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com amor misericordioso e escolheu-o: miserando atque eligendo.[7] Sempre me causou impressão esta frase, a ponto de a tomar para meu lema.

9. Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a dum Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas, três em especial: as da ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os seus dois filhos (cf. Lc 15, 1-32). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão.

Temos depois outra parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã. Interpelado pela pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, Jesus respondeu: « Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete » (Mt 18, 22) e contou a parábola do « servo sem compaixão ». Este, convidado pelo senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente depois, encontra outro servo como ele, que lhe devia poucos centésimos; este suplica-lhe de joelhos que tenha piedade, mas aquele recusa-se e fá-lo meter na prisão. Então o senhor, tendo sabido do facto, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: « Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti? » (Mt 18, 33). E Jesus concluiu: « Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração » (Mt 18, 35).

A parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para connosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: « Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento » (Ef 4, 26). E sobretudo escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: « Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia » (Mt 5, 7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo.

Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para connosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstracta. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na actividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.

10. A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua acção pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. A Igreja « vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia ».[8] Talvez, demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia. Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que esta é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança.

11. Não podemos esquecer o grande ensinamento que ofereceu São João Paulo II com a sua segunda encíclica, a Dives in misericordia, que então surgiu inesperada suscitando a surpresa de muitos pelo tema que era abordado. Desejo recordar especialmente dois trechos. No primeiro deles, o Santo Papa assinalava o esquecimento em que caíra o tema da misericórdia na cultura dos nossos dias: « A mentalidade contemporânea, talvez mais que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desenvolvimento da ciência e da técnica nunca antes verificado na história, se tornou senhor da terra, a subjugou e a dominou (cf. Gn 1, 28). Um tal domínio sobre a terra, entendido por vezes unilateral e superficialmente, parece não deixar espaço para a misericórdia. (…) Por esse motivo, na hodierna situação da Igreja e do mundo, muitos homens e muitos ambientes guiados por um vivo sentido de fé, voltam-se quase espontaneamente, por assim dizer, para a misericórdia de Deus ».[9]

Além disso, São João Paulo II motivava assim a urgência de anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo contemporâneo: « Ela é ditada pelo amor para com o homem, para com tudo o que é humano e que, segundo a intuição de grande parte dos contemporâneos, está ameaçado por um perigo imenso. O próprio mistério de Cristo (…) obriga-me igualmente a proclamar a misericórdia como amor misericordioso de Deus, revelada também no mistério de Cristo. Ele me impele ainda a apelar para esta misericórdia e a implorá-la nesta fase difícil e crítica da história da Igreja e do mundo ».[10] Tal ensinamento é hoje mais actual do que nunca e merece ser retomado neste Ano Santo. Acolhamos novamente as suas palavras: « A Igreja vive uma vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora ».[11]

12. A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma acção pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia.

A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia.

13. Queremos viver este Ano Jubilar à luz desta palavra do Senhor: Misericordiosos como o Pai. O evangelista refere o ensinamento de Jesus, que diz: « Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36). É um programa de vida tão empenhativo como rico de alegria e paz. O imperativo de Jesus é dirigido a quantos ouvem a sua voz (cf. Lc 6, 27). Portanto, para ser capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Isso significa recuperar o valor do silêncio, para meditar a Palavra que nos é dirigida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.

14. A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há-de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é connosco.

O Senhor Jesus indica as etapas da peregrinação através das quais é possível atingir esta meta: « Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco » (Lc 6, 37-38). Ele começa por dizer para não julgar nem condenar. Se uma pessoa não quer incorrer no juízo de Deus, não pode tornar-se juiz do seu irmão. É que os homens, no seu juízo, limitam-se a ler a superfície, enquanto o Pai vê o íntimo. Que grande mal fazem as palavras, quando são movidas por sentimentos de ciúme e inveja! Falar mal do irmão, na sua ausência, equivale a deixá-lo mal visto, a comprometer a sua reputação e deixá-lo à mercê das murmurações. Não julgar nem condenar significa, positivamente, saber individuar o que há de bom em cada pessoa e não permitir que venha a sofrer pelo nosso juízo parcial e a nossa pretensão de saber tudo. Mas isto ainda não é suficiente para se exprimir a misericórdia. Jesus pede também para perdoar e dar. Ser instrumentos do perdão, porque primeiro o obtivemos nós de Deus. Ser generosos para com todos, sabendo que também Deus derrama a sua benevolência sobre nós com grande magnanimidade.

Misericordiosos como o Pai é, pois, o « lema » do Ano Santo. Na misericórdia, temos a prova de como Deus ama. Ele dá tudo de Si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca. Vem em nosso auxílio, quando O invocamos. É significativo que a oração diária da Igreja comece com estas palavras: « Deus, vinde em nosso auxílio! Senhor, socorrei-nos e salvai-nos » (Sal 70/69, 2). O auxílio que invocamos é já o primeiro passo da misericórdia de Deus para connosco. Ele vem para nos salvar da condição de fraqueza em que vivemos. E a ajuda d’Ele consiste em fazer-nos sentir a sua presença e proximidade. Dia após dia, tocados pela sua compaixão, podemos também nós tornar-nos compassivos para com todos.

15. Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo actual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo.

Não podemos escapar às palavras do Senhor, com base nas quais seremos julgados: se demos de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede; se acolhemos o estrangeiro e vestimos quem está nu; se reservamos tempo para visitar quem está doente e preso (cf. Mt 25, 31-45). De igual modo ser-nos-á perguntado se ajudamos a tirar da dúvida, que faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão; se fomos capazes de vencer a ignorância em que vivem milhões de pessoas, sobretudo as crianças desprovidas da ajuda necessária para se resgatarem da pobreza; se nos detivemos junto de quem está sozinho e aflito; se perdoamos a quem nos ofende e rejeitamos todas as formas de ressentimento e ódio que levam à violência; se tivemos paciência, a exemplo de Deus que é tão paciente connosco; enfim se, na oração, confiamos ao Senhor os nossos irmãos e irmãs. Em cada um destes « mais pequeninos », está presente o próprio Cristo. A sua carne torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga … a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós. Não esqueçamos as palavras de São João da Cruz: « Ao entardecer desta vida, examinar-nos-ão no amor ».[12]

16. No Evangelho de Lucas, encontramos outro aspecto importante para viver, com fé, o Jubileu. Conta o evangelista que Jesus voltou a Nazaré e ao sábado, como era seu costume, entrou na sinagoga. Chamaram-No para ler a Escritura e comentá-la. A passagem era aquela do profeta Isaías onde está escrito: « O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; para proclamar um ano de misericórdia do Senhor » (61,1-2). « Um ano de misericórdia »: isto é o que o Senhor anuncia e que nós desejamos viver. Este Ano Santo traz consigo a riqueza da missão de Jesus que ressoa nas palavras do Profeta: levar uma palavra e um gesto de consolação aos pobres, anunciar a libertação a quantos são prisioneiros das novas escravidões da sociedade contemporânea, devolver a vista a quem já não consegue ver porque vive curvado sobre si mesmo, e restituir dignidade àqueles que dela se viram privados. A pregação de Jesus torna-se novamente visível nas respostas de fé que o testemunho dos cristãos é chamado a dar. Acompanhem-nos as palavras do Apóstolo: « Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria » (Rm 12, 8).

17. A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus. Quantas páginas da Sagrada Escritura se podem meditar, nas semanas da Quaresma, para redescobrir o rosto misericordioso do Pai! Com as palavras do profeta Miqueias, podemos também nós repetir: Vós, Senhor, sois um Deus que tira a iniquidade e perdoa o pecado, que não Se obstina na ira mas Se compraz em usar de misericórdia. Vós, Senhor, voltareis para nós e tereis compaixão do vosso povo. Apagareis as nossas iniquidades e lançareis ao fundo do mar todos os nossos pecados (cf. 7, 18-19).

As páginas do profeta Isaías poderão ser meditadas, de forma mais concreta, neste tempo de oração, jejum e caridade. « O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente, e a glória do Senhor atrás de ti. Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: “Aqui estou!” Se retirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo, se repartires o teu pão com o faminto e matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na escuridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. O Senhor te guiará constantemente, saciará a tua alma no árido deserto, dará vigor aos teus ossos. Serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis » (58, 6-11).

A iniciativa « 24 horas para o Senhor », que será celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser incrementada nas dioceses. Há muitas pessoas – e, em grande número, jovens – que estão a aproximar-se do sacramento da Reconciliação e que frequentemente, nesta experiência, reencontram o caminho para voltar ao Senhor, viver um momento de intensa oração e redescobrir o sentido da sua vida. Com convicção, ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior.

Não me cansarei jamais de insistir com os confessores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai. Ser confessor não se improvisa. Tornamo-nos tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer penitentes em busca do perdão. Nunca esqueçamos que ser confessor significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino que perdoa e salva. Cada um de nós recebeu o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados; disto somos responsáveis. Nenhum de nós é senhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus. Cada confessor deverá acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens. Os confessores são chamados a estreitar a si aquele filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por o ter reencontrado. Não nos cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que ficou fora incapaz de se alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo é injusto e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem limites. Não hão-de fazer perguntas impertinentes, mas como o pai da parábola interromperão o discurso preparado pelo filho pródigo, porque saberão individuar, no coração de cada penitente, a invocação de ajuda e o pedido de perdão. Em suma, os confessores são chamados a ser sempre e por todo o lado, em cada situação e apesar de tudo, o sinal do primado da misericórdia.

18. Na Quaresma deste Ano Santo, é minha intenção enviar os Missionários da Misericórdia. Serão um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que entre em profundidade na riqueza deste mistério tão fundamental para a fé. Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne evidente a amplitude do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu perdão. Serão missionários da misericórdia, porque se farão, junto de todos, artífices dum encontro cheio de humanidade, fonte de libertação, rico de responsabilidade para superar os obstáculos e retomar a vida nova do Baptismo. Na sua missão, deixar-se-ão guiar pelas palavras do Apóstolo: « Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia » (Rm 11, 32). Na verdade todos, sem excluir ninguém, estão chamados a acolher o apelo à misericórdia. Os missionários vivam esta chamada, sabendo que podem fixar o olhar em Jesus, « Sumo Sacerdote misericordioso e fiel » (Hb 2, 17).

Peço aos irmãos bispos que convidem e acolham estes Missionários, para que sejam, antes de tudo, pregadores convincentes da misericórdia. Organizem-se, nas dioceses, « missões populares », de modo que estes Missionários sejam anunciadores da alegria do perdão. Seja-lhes pedido que celebrem o sacramento da Reconciliação para o povo, para que o tempo de graça, concedido neste Ano Jubilar, permita a tantos filhos afastados encontrar de novo o caminho para a casa paterna. Os pastores, especialmente durante o tempo forte da Quaresma, sejam solícitos em convidar os fiéis a aproximar-se « do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça » (Hb 4, 16).

19. Que a palavra do perdão possa chegar a todos e a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente. O meu convite à conversão dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. Penso de modo particular nos homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que mudeis de vida. Peço-vo-lo em nome do Filho de Deus que, embora combatendo o pecado, nunca rejeitou qualquer pecador. Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não levamos o dinheiro connosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade. A violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar.

O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmplices de corrupção. Esta praga putrefacta da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projectos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode sentir-se imune desta tentação. Para a erradicar da vida pessoal e social são necessárias prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e destrói-nos a vida.

Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afectos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os meus irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia.

20. Neste contexto, não será inútil recordar a relação entre justiça e misericórdia. Não são dois aspectos em contraste entre si, mas duas dimensões duma única realidade que se desenvolve gradualmente até atingir o seu clímax na plenitude do amor. A justiça é um conceito fundamental para a sociedade civil, normalmente quando se faz referimento a uma ordem jurídica através da qual se aplica a lei. Por justiça entende-se também que a cada um deve ser dado o que lhe é devido. Na Bíblia, alude-se muitas vezes à justiça divina, e a Deus como juiz. Habitualmente é entendida como a observância integral da Lei e o comportamento de todo o bom judeu conforme aos mandamentos dados por Deus. Esta visão, porém, levou não poucas vezes a cair no legalismo, mistificando o sentido original e obscurecendo o valor profundo que a justiça possui. Para superar a perspectiva legalista, seria preciso lembrar que, na Sagrada Escritura, a justiça é concebida essencialmente como um abandonar-se confiante à vontade de Deus.

Por sua vez, Jesus fala mais vezes da importância da fé que da observância da lei. É neste sentido que devemos compreender as suas palavras, quando, encontrando-Se à mesa com Mateus e outros publicanos e pecadores, disse aos fariseus que O acusavam por isso mesmo: « Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores » (Mt 9, 13). Diante da visão duma justiça como mera observância da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da misericórdia que busca os pecadores para lhes oferecer o perdão e a salvação. Compreende-se que Jesus, por causa desta sua visão tão libertadora e fonte de renovação, tenha sido rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei. Estes, para ser fiéis à lei, limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando porém a misericórdia do Pai. O apelo à observância da lei não pode obstaculizar a atenção às necessidades que afectam a dignidade das pessoas.

A propósito, é muito significativo o apelo que Jesus faz ao texto do profeta Oseias: « Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios » (6, 6). Jesus afirma que, a partir de agora, a regra de vida dos seus discípulos deverá ser aquela que prevê o primado da misericórdia, como Ele mesmo dá testemunho partilhando a refeição com os pecadores. A misericórdia revela-se, mais uma vez, como dimensão fundamental da missão de Jesus. É um verdadeiro desafio posto aos seus interlocutores, que se contentavam com o respeito formal da lei. Jesus, pelo contrário, vai além da lei, a sua partilha da mesa com aqueles que a lei considerava pecadores permite compreender até onde chega a sua misericórdia.

Também o apóstolo Paulo fez um percurso semelhante. Antes de encontrar Cristo no caminho de Damasco, a sua vida era dedicada a servir de maneira irrepreensível a justiça da lei (cf. Fl 3, 6). A conversão a Cristo levou-o a inverter a sua visão, a ponto de afirmar na Carta aos Gálatas: « Também nós acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da lei » (2, 16). A sua compreensão da justiça muda radicalmente: Paulo agora põe no primeiro lugar a fé, e já não a lei. Não é a observância da lei que salva, mas a fé em Jesus Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, traz a salvação com a misericórdia que justifica. A justiça de Deus torna-se agora a libertação para quantos estão oprimidos pela escravidão do pecado e todas as suas consequências. A justiça de Deus é o seu perdão (cf. Sl 51/50, 11-16).

21. A misericórdia não é contrária à justiça, mas exprime o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, converter e acreditar. A experiência do profeta Oseias ajuda-nos, mostrando-nos a superação da justiça na linha da misericórdia. A época em que viveu este profeta conta-se entre as mais dramáticas da história do povo judeu. O Reino está próximo da destruição; o povo não permaneceu fiel à aliança, afastou-se de Deus e perdeu a fé dos pais. Segundo uma lógica humana, é justo que Deus pense em rejeitar o povo infiel: não observou o pacto estipulado e, consequentemente, merece a devida pena, ou seja, o exílio. Assim o atestam as palavras do profeta: « Não voltará para o Egipto, mas a Assíria será o seu rei, porque recusaram converter-se » (Os 11, 5). E todavia, depois desta reacção que faz apelo à justiça, o profeta muda radicalmente a sua linguagem e revela o verdadeiro rosto de Deus: « O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas. Não desafogarei o furor da minha cólera, não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no meio de ti e não me deixo levar pela ira » (11, 8-9). Santo Agostinho, de certo modo comentando as palavras do profeta, diz: « É mais fácil que Deus contenha a ira do que a misericórdia ».[13] É mesmo assim! A ira de Deus dura um instante, ao passo que a sua misericórdia é eterna.

Se Deus Se detivesse na justiça, deixaria de ser Deus; seria como todos os homens que clamam pelo respeito da lei. A justiça por si só não é suficiente, e a experiência mostra que, limitando-se a apelar para ela, corre-se o risco de a destruir. Por isso Deus, com a misericórdia e o perdão, passa além da justiça. Isto não significa desvalorizar a justiça ou torná-la supérflua. Antes pelo contrário! Quem erra, deve descontar a pena; só que isto não é o fim, mas o início da conversão, porque se experimenta a ternura do perdão. Deus não rejeita a justiça. Ele engloba-a e supera-a num evento superior onde se experimenta o amor, que está na base duma verdadeira justiça. Devemos prestar muita atenção àquilo que escreve Paulo, para não cair no mesmo erro que o apóstolo censurava nos judeus seus contemporâneos: « Por não terem reconhecido a justiça que vem de Deus e terem procurado estabelecer a sua própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus. É que o fim da Lei é Cristo, para que, deste modo, a justiça seja concedida a todo o que tem fé » (Rm 10, 3-4). Esta justiça de Deus é a misericórdia concedida a todos como graça, em virtude da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto a Cruz de Cristo é o juízo de Deus sobre todos nós e sobre o mundo, porque nos oferece a certeza do amor e da vida nova.

22. O Jubileu inclui também o referimento à indulgência. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire uma relevância particular. O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece limites. Na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja. Por isso, Deus está sempre disponível para o perdão, não Se cansando de o oferecer de maneira sempre nova e inesperada. No entanto todos nós fazemos experiência do pecado. Sabemos que somos chamados à perfeição (cf. Mt 5, 48), mas sentimos fortemente o peso do pecado. Ao mesmo tempo que notamos o poder da graça que nos transforma, experimentamos também a força do pecado que nos condiciona. Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado.

A Igreja vive a comunhão dos Santos. Na Eucaristia, esta comunhão, que é dom de Deus, realiza-se como união espiritual que nos une, a nós crentes, com os Santos e Beatos cujo número é incalculável (Ap 7, 4). A sua santidade vem em ajuda da nossa fragilidade, e assim a Mãe-Igreja, com a sua oração e a sua vida, é capaz de acudir à fraqueza de uns com a santidade de outros. Portanto viver a indulgência no Ano Santo significa aproximar-se da misericórdia do Pai, com a certeza de que o seu perdão cobre toda a vida do crente. A indulgência é experimentar a santidade da Igreja que participa em todos os benefícios da redenção de Cristo, para que o perdão se estenda até às últimas consequências aonde chega o amor de Deus. Vivamos intensamente o Jubileu, pedindo ao Pai o perdão dos pecados e a indulgência misericordiosa em toda a sua extensão.

23. A misericórdia possui uma valência que ultrapassa as fronteiras da Igreja. Ela relaciona-nos com o judaísmo e o islamismo, que a consideram um dos atributos mais marcantes de Deus. Israel foi o primeiro que recebeu esta revelação, permanecendo esta na história como o início duma riqueza incomensurável para oferecer à humanidade inteira. Como vimos, as páginas do Antigo Testamento estão permeadas de misericórdia, porque narram as obras que o Senhor realizou em favor do seu povo, nos momentos mais difíceis da sua história. O islamismo, por sua vez, coloca entre os nomes dados ao Criador o de Misericordioso e Clemente. Esta invocação aparece com frequência nos lábios dos fiéis muçulmanos, que se sentem acompanhados e sustentados pela misericórdia na sua fraqueza diária. Também eles acreditam que ninguém pode pôr limites à misericórdia divina, porque as suas portas estão sempre abertas.

Possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com estas religiões e com as outras nobres tradições religiosas; que ele nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação.

24. O pensamento volta-se agora para a Mãe da Misericórdia. A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou intimamente no mistério do seu amor.

Escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende « de geração em geração » (Lc 1, 50). Também nós estávamos presentes naquelas palavras proféticas da Virgem Maria. Isto servir-nos-á de conforto e apoio no momento de atravessarmos a Porta Santa para experimentar os frutos da misericórdia divina.

Ao pé da cruz, Maria, juntamente com João, o discípulo do amor, é testemunha das palavras de perdão que saem dos lábios de Jesus. O perdão supremo oferecido a quem O crucificou, mostra-nos até onde pode chegar a misericórdia de Deus. Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém. Dirijamos-Lhe a oração, antiga e sempre nova, da Salve Rainha, pedindo-Lhe que nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus.

E a nossa oração estenda-se também a tantos Santos e Beatos que fizeram da misericórdia a sua missão vital. Em particular, o pensamento volta-se para a grande apóstola da Misericórdia, Santa Faustina Kowalska. Ela, que foi chamada a entrar nas profundezas da misericórdia divina, interceda por nós e nos obtenha a graça de viver e caminhar sempre no perdão de Deus e na confiança inabalável do seu amor.

25. Será, portanto, um Ano Santo extraordinário para viver, na existência de cada dia, a misericórdia que o Pai, desde sempre, estende sobre nós. Neste Jubileu, deixemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca Se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar connosco a sua vida. A Igreja sente, fortemente, a urgência de anunciar a misericórdia de Deus. A sua vida é autêntica e credível, quando faz da misericórdia seu convicto anúncio. Sabe que a sua missão primeira, sobretudo numa época como a nossa cheia de grandes esperanças e fortes contradições, é a de introduzir a todos no grande mistério da misericórdia de Deus, contemplando o rosto de Cristo. A Igreja é chamada, em primeiro lugar, a ser verdadeira testemunha da misericórdia, professando-a e vivendo-a como o centro da Revelação de Jesus Cristo. Do coração da Trindade, do íntimo mais profundo do mistério de Deus, brota e flui incessantemente a grande torrente da misericórdia. Esta fonte nunca poderá esgotar-se, por maior que seja o número daqueles que dela se abeirem. Sempre que alguém tiver necessidade poderá aceder a ela, porque a misericórdia de Deus não tem fim. Quanto insondável é a profundidade do mistério que encerra, tanto é inesgotável a riqueza que dela provém.

Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e perdoar. Que a Igreja se faça voz de cada homem e mulher e repita com confiança e sem cessar: « Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e do teu amor, pois eles existem desde sempre » (Sl 25/24, 6).

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Abril – véspera do II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia – do Ano do Senhor de 2015, o terceiro de pontificado.

Francisco

[1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 4.

[2] Discurso de abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, Gaudet Mater Ecclesia (11 de Outubro de 1962), 2-3.

[3] Alocução na última sessão pública (7 de Dezembro de 1965).

[4] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 16; Const. past. Gaudium et spes, 15.

[5]Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, q. 30, a. 4.

[6] Domingo XXVI do Tempo Comum. Esta colecta já aparece, no séc. VIII, entre os textos eucológios do Sacramentário Gelasiano (1198).

[7] Cf. Homilia 21: CCL 122, 149-151.

[8] Exort. ap. Evangelii gaudium, 24.

[9] João Paulo II, Carta enc. Dives in misericordia, 2.

[10] Ibid., 15.

[11] Ibid., 13.

[12] Ditos de luz e amor, 57.

[13] Enarratio in Psalmos, 76, 11.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

A Missão do Ministério de Formação


Quando falamos de Ministérios dentro da Renovação Carismática Católica, estamos nos referindo àquelas funções específicas exercidas segundo os Carismas dados pelo Senhor. Mas, quando falamos de Ministérios logo vem à mente das pessoas o Ministério de Cura e Libertação, o de Pregação, Intercessão, etc.

De fato estes são os Ministérios mais conhecidos, são os Ministérios que mais ouvimos falar. Isto se deve, ao menos em parte, em função da maciça identificação das pessoas com apenas um dos aspectos que fazem parte da Identidade da Renovação Carismática Católica. Refiro-me à prática dos Carismas. E só para lembrar os três pilares da identidade da RCC, são: Batismo no Espírito Santo, prática dos carismas e vida em comunidade.

Sabemos, contudo, que nenhum destes pilares pode subsistir isoladamente. Mas, sabemos também que sem uma sólida formação não é possível vivermos na íntegra a Identidade da RCC. Podemos até vivenciar esta identidade, mas se não tivermos uma compreensão do que ela significa, correremos o risco de transformar este lindo movimento da Igreja em uma igrejinha separada.

Muitos até costumam dizer: “eu sou da carismática”. Como assim sou da carismática? Se com esta frase estamos querendo dizer que vivemos a Identidade da RCC em comunhão com a Santa Mãe Igreja, não há problema algum. No entanto, é imprescindível, que fique claro, que para ser carismático é necessário viver conforme os três pilares que sustentam a vida da Igreja: Sagrada Escritura, Sagrado Magistério e Sagrada Tradição.

Todavia, não é possível vivermos conforme estes três pilares, e portanto, em comunhão com a Igreja, se não nos submetermos a uma sólida formação. Sobre a ação formadora o Código de Direito Canônico em seu cânon 231, diz: “Os leigos que são destinados permanentemente ou temporariamente a um serviço especial na Igreja têm a obrigação de adquirir a formação adequada, requerida para o cumprimento do próprio encargo e para exercê-lo consciente, dedicada e diligentemente”.

O Código de Direito Canônico é muito claro. Todos que estão à frente de qualquer movimento ou pastoral precisam obrigatoriamente se submeter a uma formação adequada, e esta obrigatoriedade é estendida também à RCC e a todos os seus membros. Então, quem está à frente de um Grupo de Oração precisa passar por formação.

Foi pensando nesta obrigação e movida pelo zelo por tudo que é sagrado e que se refere à vida da Igreja, que a RCC foi inspirada a criar o Ministério de Formação. O Ministério de Formação é um ministério que perpassa todos os outros ministérios, pois sem formação não podemos exercer com discernimento os carismas que Deus nos concede e que sabemos são os fundamentos dos Ministérios na RCC. Neste sentido a formação é considerada a guardiã dos carismas, pois ela semeia nos corações o zelo pelas coisas sagradas.

Mais do que semear nos corações o zelo pelas coisas sagradas, a formação leva-nos a um conhecimento mais profundo da pessoa de Jesus Cristo, e deste conhecimento, segundo o Catecismo da Igreja Católica ( par. 429), é que jorra o desejo de anunciá-lo. Como anunciar Jesus se não o conhecemos?

Este conhecimento da pessoa de Jesus inevitavelmente passa pelo conhecimento da Igreja, de seu magistério e também de sua tradição. O magistério é nada mais, nada menos, que a interpretação oficial que a Igreja faz das Escrituras a partir do auxílio do Espírito Santo e também, segundo, a tradição. Da interpretação oficial que a Igreja faz das Escrituras surge a Doutrina. Conhecendo, então, o Magistério da Igreja estamos conhecendo a Cristo.
Faz parte, portanto, da missão do Ministério de Formação da RCC, proporcionar aos seus servos e também ao povo de Deus uma sólida formação no que diz respeito aos aspectos mais relevantes da Doutrina da Igreja. E esta formação sobre os aspectos mais relevantes da doutrina acontece a partir do estudo da Identidade da RCC, lembrando que a nossa identidade encontra-se muito bem fundamentada no Magistério da Igreja. Em outras palavras, a Identidade da RCC e todas as suas consequências em nada contradizem o que a Igreja diz em seu Magistério.

Para tornar o estudo a qual nos referimos acima, ainda mais fácil, a Escola Paulo Apóstolo (EPA), que é uma Escola de Formação da RCC, tem algumas apostilas com temas que tratam tanto da vida da Igreja, quanto da vida do nosso movimento. O módulo básico de formação está dividido em oito etapas que têm como temas “A Identidade da Renovação Carismática Católica”, “Carismas”, “Grupos de Oração”, “Oração: caminho de santidade”, “Santidade”, “Liderança em Serviço na RCC”, “Igreja” e “Doutrina Social”.

Passar por esta formação é muito importante. Caso você queira solicitar a implantação da Escola Paulo Apóstolo em sua cidade, entre em contato com a Coordenação Diocesana da RCC de Luz ou com a Coordenação do Ministério de Formação. Levemos juntos o Evangelho a toda criatura!

Paz e bem!

Bruno Alvarenga Ribeiro – Coordenador do Ministério de Formação da RCC da Diocese de Luz.

Publicado em Uncategorized | 4 Comentários

Os números de 2014


Os duendes de estatísticas do WordPress.com prepararam um relatório para o ano de 2014 deste blog.

Aqui está um resumo:

A sala de concertos em Sydney, Opera House tem lugar para 2.700 pessoas. Este blog foi visto por cerca de 13.000 vezes em Se fosse um show na Opera House, levaria cerca de 5 shows lotados para que muitas pessoas pudessem vê-lo.

Clique aqui para ver o relatório completo

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário